Transtorno de Personalidade Paranoide


Renton, J. C., & Mankiewicz, P. D. (2017). Transtornos da personalidade paranoide, esquizotípica e esquizoide. In A. T. Beck, D. D. Davis, & A. Freeman (Orgs.), Terapia cognitiva dos transtornos da personalidade (3a ed., Cap. 12). Porto Alegre: Artmed.
Resenhado por Michelle Leite

O Transtorno de Personalidade Paranoide (TPP) é caracterizado por uma persistente interpretação da intenção dos outros como maliciosa, aliada a uma série de desconfianças e suspeitas. A crença existente é que o indivíduo será prejudicado ou enganado pelas outras pessoas, mesmo na ausência de evidências que atestem esse fato. Este tipo de cognição é prejudicial principalmente para os relacionamentos sociais, uma vez que o sentimento de confiança nas pessoas raramente ocorre, dando lugar ao afastamento social e à busca excessiva de ações comprobatórias das intenções malignas alheias.
Apesar de algum tipo de ideação paranoide – desconfiança, cognições persecutórias, ideias de referência, entre outros – estar presente em até 30% da população em geral, o TPP é ainda um tema escasso na literatura. Além dos prejuízos sociais, pessoas com TPP apresentam considerável sofrimento psicológico, exaustão emocional e diminuição da qualidade de vida, sendo os sintomas ansiosos os mais relatados. A terapia cognitiva revelou-se um tratamento adequado para paranoia, através do trabalho sobre as crenças paranoides, os vieses de atenção, interpretação e memória.
A suspeita e a falta de confiança no TPP são predominantes em todos os relacionamentos, inclusive com o próprio terapeuta. Os terapeutas tendem a ser vistos com desconfiança e as crenças sobre a má intenção dos outros costumam inibir o envolvimento desses pacientes com o processo terapêutico, tornando o engajamento especialmente difícil. Por estes motivos, é importante utilizar ferramentas que facilitem o envolvimento inicial e dar tempo à esse processo ainda que possa parecer improvável que venha a existir um relacionamento colaborativo.
A terapia cognitivo comportamental conta com um conjunto de estratégias e técnicas para o tratamento do TPP. Como forma de engajamento inicial e negociação sobre o início do tratamento, um caminho possível é estabelecer junto ao paciente um conjunto de vantagens e desvantagens de fazer ou não a terapia, direcionando essas conclusões numa perspectiva de mudança pessoal. Para o estabelecimento de metas, o recomendado é a utilização de uma abordagem mais flexível, que satisfaça tanto o paciente como o psicólogo, já que esses pacientes tendem a resistir às metas específicas produzidas pelo terapeuta.
O uso de questionamento socrático, baseado na descoberta guiada, é uma das técnicas fundamentais nesse trabalho. O terapeuta ajuda o cliente a revisar as evidências em seus conjuntos de crenças e a buscar alternativas, em vez de apontar imprecisões no pensamento. Para testar essas crenças, é válida a formulação de experimentos comportamentais. Esse processo inicialmente deve ser feito considerando eventos específicos e, somente após o paciente adquirir as habilidades de desafiar suas cognições e mediar respostas comportamentais, deve ser generalizado para as outras áreas da vida.
           A generalização é possível a partir da formulação cognitiva desenvolvimentista do caso. Nesse momento, é útil a psicoeducação do cliente acerca do processo de manutenção das próprias crenças que, quando compreendido, promove um processo de gerenciamento das informações, e assim, de modificação das crenças arraigadas e orientadas à ameaça. O terapeuta deve finalizar o tratamento revisando os pontos positivos alcançados em comparação com a queixa inicial e a lista de vantagens e desvantagens produzidas no início, além de encorajar a utilização das estratégias aprendidas na terapia para reforçar e generalizar os efeitos produzidos.

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