Eventos traumáticos na infância, impulsividade e transtorno da personalidade borderline


Nunes, F. L., Rezende, H. A. D., Silva, R. S., & Alves, M. M. (2015). Eventos traumáticos na infância, impulsividade e transtorno da personalidade borderline. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 11(2), 68-76. doi: 10.5935/1808-5687.20150011

Resenhado por Lizandra Soares

O transtorno de personalidade borderline (TPB) pode ser entendido como um padrão comportamental desadaptativo de personalidade que apresenta intensa labilidade emocional, prejuízos da autopercepção e nos relacionamentos interpessoais, atrapalhando vários campos da vida da pessoa. Indivíduos com esse perfil relatam sentimento de vazio persistente, receio de ser abandonado e comportamentos autolesivos. Em relação a sua prevalência, estima-se que 2,7% da população podem apresentar esse transtorno, principalmente, mulheres. Estima-se que 3 em cada 4 pessoas diagnosticadas sejam do sexo feminino. Além disso, esse quadro psicopatológico está estritamente associado a altas taxas de suicídio e/ou déficit funcional, acarretando alto custo financeiro para o tratamento. Neste sentido, a detecção dos fatores de risco seria muito importante haja vista pode possibilitar a compreensão dos precursores desse transtorno.
O objetivo da pesquisa foi verificar se o traço de impulsividade e o histórico de eventos traumáticos na infância (abuso físico, emocional e/ou sexual) poderiam ser considerados preditores dos sintomas do TPB. Foi utilizado o delineamento retrospectivo por meio de levantamento online, com uma amostra não clínica de 748 participantes sendo 74,4% do sexo feminino na faixa etária de 18 a 63 anos (média = 25,16; DP = 6,95). Os instrumentos utilizados foram: 1) questionário para levantamento do perfil sociodemográfico e econômico; 2) questionário para avaliação de sintomas do transtorno de personalidade borderline; 3) Questionário sobre Traumas na Infância (QUESI); e 4) Escala de Impulsividade de Barratt (BIS-11).
Para análise dos dados utilizaram-se análises de regressão linear hierárquica, as quais apontaram a presença de forte influência do traço de impulsividade e do histórico de abuso emocional na infância em relação aos sintomas do transtorno borderline. Ao serem avaliados os valores de assimetria e curtose, foi observado que os valores estavam dentro dos limites aceitáveis de normalidade (assimetria < 3; curtose < 10), neste sentido realizaram-se análises paramétricas. O modelo total foi significativo e explicou cerca de 45,9% da variância dos sintomas no TPB. Os resultados apontam para a corroboração de teorias mais atuais acerca dos sintomas do TPB. Frisa-se que os predisponentes para esse transtorno perpassam pelas crenças de vulnerabilidade individual. Outro aspecto apontado foi que traumas durante a infância podem prejudicar o desenvolvimento e desencadear a evolução do TPB.
No que se refere às limitações do estudo, podem ser citadas: 1) uso exclusivo de amostra não-clínica; 2) o estudo é transversal e utiliza medidas correlacionais para prever relações entre eventos vivenciados na infância e resultados na vida adulta, o que seria melhor determinado por estudos longitudinais, já que os dados coletados na presente pesquisa podem ser influenciados pela memória dos participantes; e 3) foi usada apenas a impulsividade para avaliar a vulnerabilidade individual. Em estudos posteriores poderia ser considerada a regulação emocional como uma variável importante para a compreensão do fenômeno da vulnerabilidade. Para a psicologia da saúde estudos como esses são importantes porque permitem a compreensão do TPB e suas variáveis preditoras, o que possibilita intervenções mais efetivas e direcionadas.

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