Consequências da personalidade borderline na adesão ao tratamento de dores crônicas
Macedo,
B. B. D., Menezes, C. N. B. B., Baes, C. V. W., & Juruena, M. F. (2017).
Consequências da personalidade borderline na adesão ao tratamento de dores
crônicas. Revista Humanidades, 32(2), 193-203. doi:
10.5020/23180714.2017.32.2.193-203
Resenhado por
Brenda Fernanda
De
acordo com o DSM (APA, 2014), os transtornos da personalidade (TP) constituem “um
padrão de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das
expectativas da cultura do indivíduo”. Os TP têm início na adolescência ou
começo da fase adulta, sendo estáveis ao longo do tempo e ocasionando grande
sofrimento. A discussão sobre o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) tem
sido recorrente na área da saúde mental, em função dos prejuízos desencadeados
por esta condição, que afeta as esferas emocionais, interpessoais, cognitivas,
comportamentais e a identidade do paciente. O presente estudo objetivou debater
a influência do TPB na adesão ao tratamento das dores crônicas, bem como a ação
da Terapia Comportamental Dialética. Para tanto, foi realizado um estudo de
caso, proveniente dos atendimentos de uma paciente com TPB e diagnóstico de
fibromialgia.
A
fim de abordar os comportamentos, pensamentos e emoções invalidantes
característicos do TPB, os autores utilizaram a Terapia Comportamental Dialética
(TCD), proposta de Linehan (2010). A TCD propõe uma postura dialética por parte
do terapeuta, visando a validar o sofrimento vivido pelo paciente, bem como desenvolver
novas habilidades de comportamento e pensamento. A paciente do referido estudo
era do sexo feminino, tinha 32 anos de idade, era auxiliar de enfermagem,
cadeirante há nove anos e aposentada por invalidez. Chegou ao Ambulatório de
Dor de uma universidade com queixas de fortes dores no corpo que a impediam de
andar. Foi acompanhada no período de dezembro de 2012 a março de 2014 por
profissionais da Medicina e Psicologia envolvidos no serviço do ambulatório. A
discussão do artigo discorre sobre as sessões psicoterapêuticas e manejo da
dor.
Foi realizada a conceitualização cognitiva do caso, bem
como um diário de mensuração dos níveis de dor. Foram identificados pensamentos
automáticos, comportamentos e emoções associados a determinados eventos.
Visando a aliviar as intensas dores sentidas pela paciente, foram ensinadas técnicas
de respiração diafragmática e atenção plena (mindfulness). Em função da falta de engajamento da paciente, os
métodos sugeridos para manejo da dor não obtiveram sucesso. A paciente
apresentava diversas crenças limitantes de incapacidade, o que afetava a
eficácia terapêutica. Foram identificados também padrões de desregulação
emocional e comportamental, a exemplo de ingestão de bebidas alcoólicas e
medicamentos simultaneamente, que foram extintos ao longo do tratamento
psicoterápico. Por fim, como pontos positivos da intervenção psicológica, a
paciente demonstrou ter consciência de que suas dores eram perpassadas pelas
suas reações emocionais e que a formação de vínculo foi relevante para o
processo terapêutico, pois ser escutada por alguém a levava a crer que estava melhor.
Frente
ao exposto, destaca-se a importância do papel do psicoterapeuta diante de casos
de transtorno de personalidade borderline, a fim de manejar os comportamentos
impulsivos característicos do quadro, oferecer escuta de qualidade, bem como
desenvolver estratégias de enfrentamento adequadas ao quadro psiquiátrico.
Entende-se que o acompanhamento psicológico do TPB pode promover maior
qualidade de vida aos pacientes.
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