Personalidade e psicopatia: Implicações diagnósticas na infância e adolescência


Davoglio, T. R., Gauer, G. J. C., Jaeger, J. V. H., & Tolotti, M. D. (2012). Personalidade e psicopatia: Implicações diagnósticas na infância e adolescência. Estudos de Psicologia17(3), 453-460.

Resenhado por Daiane Nunes

Sabe-se que experiências infantis podem estar relacionadas à presença de fatores de risco para o desenvolvimento de quadros psicopatológicos na vida adulta. Crianças e jovens submetidos a vivências traumáticas, incluindo, abuso físico e/ou psicológico, negligência, punição excessiva e agressiva, apresentam maior vulnerabilidade à presença de traços ou sintomas de Transtornos de Personalidade (TP). Os traços de personalidade são expressos por padrões persistentes na percepção, relação e pensamento sobre si mesmo e seu ambiente.  Eles podem se caracterizar como um transtorno à medida que se expressam como inflexíveis ou desadaptativos para o contexto sociocultural do indivíduo, provocando prejuízo funcional relevante. Os TPs, independentemente de sua tipologia específica, envolvem a cognição, a afetividade, o funcionamento interpessoal e controle dos impulsos, não se limitando apenas a resposta aos estressores específicos. Nos quadros de TP, o contato do indivíduo com a realidade se mantém preservado, embora haja distorção cognitiva em relação aos traços de personalidade, que não são percebidos pelo indivíduo como estranhos ou indesejáveis.
Embora a Associação Americana de Psicologia (APA) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomendem o diagnóstico de TP antes dos 17 ou 18 anos, é consenso entre estudiosos e pesquisadores que esses transtornos se iniciam precocemente e perduram por quase toda a vida, sendo relativamente frequente entre a população geral, com prevalência entre 10 e 13%. A recomendação da APA e OMS contribui para o desafiador debate, ainda sem consenso, quanto às questões diagnósticas associadas à etapa desenvolvimental em que os TPs podem de fato ser identificados. Esta questão se estende de forma ainda mais expressiva quando se trata do Transtorno de Personalidade Antissocial.
A Psicopatia se refere a uma tipologia específica de TP, que envolve características comportamentais desviantes, aspectos afetivos e relacionais, cuja etiologia e desenvolvimento ainda são pouco esclarecidos. Nesse sentindo, a busca de uma terminologia mais apropriada e o desenvolvimento de instrumentos de avaliação consistentes têm sido a principal preocupação de pesquisadores e profissionais. Assim, o presente estudo realizou uma revisão da literatura com objetivo de examinar o construto da psicopatia associado ao desenvolvimento da personalidade em crianças e adolescentes.
Os materiais levantados ressaltam aspectos relevantes a serem discutidos, principalmente no que se refere à utilidade do construto ou forma mais apropriada de conceituá-lo e mensurá-lo na infância e adolescência. Os autores destacam que a definição de psicopatia envolve três importantes dimensões, além dos comportamentos antissociais. Tais dimensões incluem (1) um estilo interpessoal enganador e arrogante; (2) experiência afetiva deficiente, com pouca capacidade de remorso, culpa e empatia, insensibilidade e falha em aceitar responsabilidade pelas ações; e (3) um estilo de comportamento impulsivo ou irresponsável.
Por fim, os autores pontuam que o principal desafio se refere à distinção entre o que é típico da adolescência e o que pode ser visto como expressão de psicopatia, considerando que alguns aspectos desse transtorno, como a irresponsabilidade e o egocentrismo, são também características observadas nos jovens. A fim de superar este impasse, os autores sugerem que tais argumentos devem ser sempre relativizados a partir da história de vida do adolescente. Nesse âmbito, a Psicologia da Saúde pode contribuir na investigação dos comportamentos infanto-juvenis considerados desadaptativos, levando em conta sua intensidade, frequência e repercussões nos diferentes aspectos de suas vidas.

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