Transtorno de Personalidade Borderline, tentativas de suicídio e desempenho cognitivo
Pastore, E., & Lisboa, C. (2017). Transtorno de
personalidade borderline, tentativas de suicídio e desempenho cognitivo. Psicologia
Argumento, 32(79),
9-17. doi: 10.7213/psicol.argum.32.S01.AO01
Resenhado
por Sara Andrade
Os transtornos de personalidade vêm
ocupando cada vez mais espaço na literatura científica. Dentre eles, o Transtorno de Personalidade Boderline (TPB) tem
ganhado destaque nos estudos sobre tais condições psicopatológicas. Apesar
disso, tem-se observado gradativa esquiva dos profissionais de saúde para
atender esses pacientes devido às características do próprio transtorno, as
quais acarretam desgaste e desmotivação para o trabalho, mais ainda quando
estas se vinculam à tentativa de suicídio.
O TPB é um
distúrbio da personalidade caracterizado por um padrão invasivo e conturbado de
relacionamentos interpessoais, bem como alterações na forma de perceber a si
mesmo e em relação aos afetos (Malloney, Degenhardt, Darke, & Nelson, 2009;
Sollof et al., 2012). Esses pacientes geralmente apresentam acentuado grau de
impulsividade. As primeiras manifestações tendem a ocorrer no final da
adolescência ou no início da idade adulta, permanecendo presentes em vários
contextos da vida do paciente. O TPB inclui um conjunto de fatores que explicam
sua etiologia, sendo que os principais são: a biologia/genética, experiências
de separação e perda, abuso infantil e ambiente familiar conturbado e caótico.
O artigo apresenta uma revisão crítica e
assistemática da literatura sobre o TPB, suicídio e funções cognitivas. As
bases de dados pesquisadas foram os portais Capes, ScienceDirect, PsycINFO,
Cochrane, BVS-PSI, Bireme e Medline.
Um dos critérios mais importantes para a
classificação do TPB são as ameaças e tentativas de suicídio que acometem esses
pacientes (Linehan, 2010; Brodsky et. al., 2006). Muitas das tentativas ocorrem
como forma de chamar atenção para o sofrimento emocional que vivenciam, mas não
chegam a constituir risco real para chegarem a óbito. Já em relação ao
desempenho cognitivo, pesquisas apontam que variáveis como genética e traumas
infantis, tais quais a negligência, abuso sexual e emocional, além de outros
eventos estressores, podem ser causas para o transtorno e seriam responsáveis
por falhas cognitivas.
Verificou-se que a literatura aponta para
uma estreita relação entre TPB e déficits cognitivos. Esses últimos
fundamentais para a compreensão e tratamento do transtorno, que inclui
automutilações e tentativas de suicídio como manifestações clínicas frequentes.
Vários domínios cognitivos parecem estar afetados em indivíduos com TPB,
especialmente em funções executivas como atenção, concentração, memória de
trabalho, tomada de decisões e controle dos impulsos. Em pacientes com TPB e com
histórico de tentativas de suicídio, os déficits
nas funções executivas parecem ser ainda mais acentuados. A relevância em
avaliar os aspectos cognitivos, a impulsividade e o risco de suicídio em
pacientes com TPB reside na possibilidade de gerar subsídios para melhorar as
formas de intervenção nesse transtorno e, especialmente, evitar o comportamento
suicida e o grave risco de morte em que ele implica.
Cabe aos
profissionais da saúde equipar-se de conhecimentos e técnicas existentes e
acessíveis para o desenvolvimento do tratamento para o TPB, dentre eles,
principalmente, os profissionais da psicologia e psiquiatria, visto que é um
transtorno altamente disfuncional e prejudicial à qualidade de vida de seus
portadores.
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