Transtorno da personalidade evitativa versus fobia social: O significado da negligência na infância / Avoidant personality disorder versus social phobia: the significance of childhood neglect
Eikenaes, I., Egeland,
J., Hummelen, B., & Wilberg, T. (2015). Avoidant personality disorder
versus social phobia: The significance of childhood neglect. PloS one, 10(3),
e0122846. doi:
10.1371/journal.pone.0122846
Resenhado por
Maísa Carvalho
O Transtorno de
Personalidade Evitativa (TPE) é um padrão de personalidade que pode ser
caracterizado pela inibição social, sentimento de inadequação e
hipersensibilização a valorações negativas. De acordo com os critérios
diagnósticos do DSM-IV, em resumo, o indivíduo diagnosticado com TPE constantemente
se esquiva de situações sociais de muito contato por temer críticas e rejeição,
possui dificuldade de se envolver com outras pessoas por medo de não ser
aceito, apresenta um retraimento expressivo em suas relações e reluta
envolver-se em novas atividades por sentir vergonha. Já a Fobia Social (FS) é
definida por uma intensa e marcante ansiedade para uma ou mais situações as
quais a pessoa é exposta ou observada por desconhecidos. Sentimentos como
vergonha e o medo de ser humilhado também estão presentes, levando o indivíduo
a evitar situações ou encará-las com distresse ou ansiedade.
Sabe-se
que em ambas desordens a combinação de um temperamento vulnerável com fatores
de risco ambientais na infância se constituem como fatores etiológicos para o desenvolvimento
do TPE e da FS. Traumas, abusos (físicos e emocionais) na infância, à exemplo
de maus tratos e lesões não acidentais direcionados à criança, além de negligência
parental, entendida como um déficit das necessidades físicas e emocionais da
criança que não são providas pelos cuidadores, são elementos que geralmente
estão presentes em famílias disfuncionais e consequentemente contribuem para o
desenvolvimento insalubre da criança. Assim, o presente estudo buscou
investigar as similaridades e diferenças entre as duas patologias, mas,
sobretudo, confirmar a hipótese de que os pacientes diagnosticados com o TPE
possuem um histórico de maus tratos na infância do que a FS.
Participaram
91 pacientes adultos com TPE e/ou FS, todos recrutados por seus terapeutas,
sendo 65% do sexo feminino com idade média de 37,6 anos e idade média de 26,9
anos para o primeiro contato com serviços psiquiátricos. A amostra foi dividida
entre dois grupos: a) Grupo TPE, incluindo pacientes com o transtorno e/ou FS (n
= 71) e b) Grupo FS, incluindo pacientes diagnosticados apenas com esta
desordem (n = 20). Os instrumentos utilizados foram o Axis I and axis
II diagnoses, o Childhood Trauma Questionnaire (CTQ), Parental
Bonding Instrument (PBI) e o Adult Temperament Questionnaire (ATQ). Foram
realizadas análises de frequência e inferenciais – ANOVA, Teste do Qui-Quadrado
e Teste U de Mann-Whitney. Os resultados apontaram que o grupo TPE obteve os
maiores escores para negligência física e também para a emocional (8,3 e 16,0,
respectivamente) em comparação ao grupo FS (6,7 e 13,7, respectivamente),
corroborando a principal hipótese do estudo. Não foram encontradas diferenças
significativas entre os grupos quanto aos abusos físico, emocional ou sexual.
A
negligência parental, em sua totalidade, é um importante fator de adoecimento
psicológico, além de que contribui para que a criança possua um desenvolvimento
disfuncional, com danos observáveis em diferentes áreas da vida. Frente ao
exposto, ao compreender a Psicologia da Saúde como uma área que preconiza o
estudo dos determinantes sociais, consequentemente abrangendo também os
aspectos parentais, novos estudos direcionados ao entendimento desses fatores
podem ser feitos para o investimento em intervenções psicológicas nos serviços
públicos de saúde, como clínicas de saúde da família e hospitais.
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