Sintomas de TEPT e trauma na infância em pacientes com Transtorno da Personalidade Borderline


Conceição, I. K., Bello, J. R., Kristensen, C. H., & Dornelles, V. G. (2015). Sintomas de TEPT e trauma na infância em pacientes com transtorno da personalidade bordeline. Psicologia em Revista, 21(1), 87. doi: 10.5752/P.1678-9523.2015V21N1P87

Resenhado por Amanda Feitosa

O Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) é caracterizado pelo DSM-IV como um transtorno presente no início da adultez em pessoas que apresentam dificuldade em relacionamentos interpessoais, impulsividade exacerbada e instabilidade de humor em variados contextos. Um fator relevante para a etiologia do TPB é sua relação com experiências traumáticas na infância como, por exemplo, negligência parental e abusos sexuais. A ocorrência de TPB em pessoas que vivenciaram traumas infantis já foi analisada por diversos estudos, assim como sua comorbidade com o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). O presente artigo teve como objetivo investigar a predisposição da manifestação do TEPT com TPB relacionado a um histórico de maus-tratos durante a infância.
No estudo participaram 22 pacientes diagnosticados com TPB, sendo 85,7% mulheres e idade entre 18 e 50 anos (M = 33,3; DP = 10,78). Como critérios de exclusão consideraram-se a ausência de depressão e ansiedade grave e de outros transtornos psicóticos. Utilizaram-se os instrumentos DIB-R (entrevista para diagnóstico de Transtorno de Personalidade Borderline), o qual é composto por quatro fatores (afeto, cognição, padrão de ações impulsivas e relacionamentos interpessoais). Além disso, usou-se o CTQ, questionário sobre traumas na infância, e o SPTSS, medida de rastreio de sintomas do TEPT.
Os resultados mostraram que o fator mais pontuado se referiu às dificuldades no relacionamento interpessoal. Por meio do CTQ, os participantes relataram a presença de algum trauma na infância entre índices leves a moderados, com coocorrência de TPB e traumas infantis. Além disso, 47,6% dos pacientes apresentaram sintomas para TEPT, exibindo correlação positiva significativa entre os fatores do SPTSS e do DIB-R. Esses dados confirmaram a hipótese de que a possibilidade de desenvolver TPB está relacionada à existência de abusos e negligência emocional na infância, e de que os altos níveis de TEPT relacionam-se à presença de abusos quando criança.
A vivência traumática de abusos emocionais e físicos durante a infância deve ser alvo de intervenções psicossociais e aconselhamento psicológico. O campo da Psicologia da Saúde tem um papel determinante na compreensão desse fenômeno, especialmente no que tange à elaboração de medidas que contribuam para a diminuição de maus-tratos infantis e no desenvolvimento saudável do indivíduo. Por fim, destaca-se a necessidade de mais estudos que busquem identificar outras variáveis da dinâmica familiar que tenham a capacidade de influenciar o surgimento de problemas de saúde mental.

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