Eventos traumáticos na infância, impulsividade e transtorno da personalidade borderline


Nunes, F. L., Rezende, H. A. de, Silva, R. S., & Alves, M. M. (2015). Eventos traumáticos na infância, impulsividade e transtorno da personalidade borderline. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 11(2), 68–76. doi:10.5935/1808-5687.20150011

Resenhado por Danielle Alves Menezes

O transtorno da personalidade borderline (TPB) atinge 2,7% da população adulta, dos quais três quartos são do sexo feminino. Conceitualiza-se TPB como padrão desadaptativo de personalidade marcado por intensa labilidade emocional, prejuízos da autopercepção e das relações interpessoais, além de sentimentos persistentes de vazio, receio de abandono e comportamentos autolesivos. Encontram-se associações com altas taxas de suicídio, déficit funcional grave e elevado índice de transtornos mentais comórbidos. Como fatores predisponentes, destacam-se eventos traumáticos, como abusos (físicos, sexuais ou psicológicos ) ou maus-tratos no período da infância (negligência física ou emocional).
Histórico de abuso emocional teria maior peso na manifestação de TPB, pois implicariam em dificuldades para regular emoções e lidar de forma adaptada com as relações interpessoais. Abuso emocional são situações em que experiências dolorosas da criança são percebidas como triviais, dificuldades são vistas como problemas de caráter (como preguiça), e onde a criança é frequentemente punida e criticada. O ambiente familiar é composto por pessoas que raramente orientam, apoiam ou elogiam a criança, o que torna esse lugar altamente aversivo. Além desses fatores, estudos que utilizaram exames de neuroimagem identificaram atividade neuronal compatível com comportamento impulsivo, o que poderia caracterizar a presença de desregulação emocional em pessoas com TPB. Sabe-se que a impulsividade na TPB pode estar associada à automutilação, promiscuidade e abuso de substâncias.
Tendo em vista as evidências acerca da presença de eventos traumáticos e comportamento impulsivo na TPB, os autores realizaram estudo empírico em uma amostra de adultos residentes na região metropolitana de Belo Horizonte, composta por 748 pessoas, com idades entre 18 e 63 anos (média = 25,16; DP = 6,95), 74,4% do sexo feminino. O objetivo foi investigar se sintomas característicos da personalidade borderline são preditos pelo histórico de eventos traumáticos na infância e/ou pelo nível do traço de impulsividade. Os resultados mostraram haver forte influência da impulsividade e do histórico de abuso emocional na infância sobre os sintomas de TPB. Histórico de abuso físico e sexual, embora tenha contribuído para o aumento dos sintomas, não apresentou poder de predição, atuando de forma a agravar sintomas do que propriamente favorecendo a manifestação de TPB.
A psicologia da saúde pode auxiliar na construção de modelos estruturais mais complexos, favorecendo o entendimento de quais sintomas relacionados ao TPB podem trazer importantes prejuízos a adaptação social e bem-estar subjetivo, inclusive em indivíduos que ainda não foram diagnosticados com o transtorno.

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