Do sofrimento psicológico à procrastinação acadêmica: Explorando o papel da inflexibilidade psicológica/ From psychological distress to academic procrastination: Exploring the role of psychological inflexibility


Eisenbeck, N., Carreno, D. F. & Uclés-Juárez, Rubén. (2019). From psychological distress to academic procrastination: Exploring the role of psychological inflexibility. Journal of Contextual Behavioral Science, 13, 103-108. doi: 13. 103-108. 10.1016/j.jcbs.2019.07.007.

Resenhado por Amanda Feitosa

A procrastinação acadêmica é definida como o adiamento realizado por estudantes para iniciar ou finalizar trabalhos acadêmicos. Ela é uma estratégia de regulação emocional caracterizada pela tendência cognitiva evitativa de experiências aversivas, e é reconhecida por trazer consequências negativas em longo prazo para a maioria dos estudantes. Um possível fator de manutenção desse comportamento seria a incapacidade de lidar com experiências indesejadas, o que o texto define como inflexibilidade psicológica. O artigo aponta que o comportamento procrastinador surge devido o despreparo do estudante em lidar com eventos indesejáveis e na não aceitação dos sentimentos negativos que derivam dessa experiência.
Os estados emocionais negativos (como ansiedade, depressão e estresse) decorrentes dessas situações são chamados de sofrimento psicológico geral, e levam a um padrão de comportamento evitativo frente a atividades acadêmicas, a conhecida procrastinação. Visto isso, estudos trazem uma possível associação entre procrastinação acadêmica e sofrimento psicológico, sendo a inflexibilidade psicológica uma mediadora dessa relação.
O objetivo deste estudo foi avaliar o papel mediador da inflexibilidade psicológica entre o sofrimento psicológico e procrastinação acadêmica e entre cada um dos estados emocionais negativos (depressão, ansiedade e estresse) que constituem o sofrimento psicológico geral. A pesquisa teve como amostra 442 estudantes da graduação com idade entre 17 e 58 anos (M = 22.04, DP = 5.24), sendo 76.2% do sexo feminino (n = 337) e 23.8% do masculino (n = 105). Os instrumentos utilizados foram o Acceptance and Action Questionnaire-II (AAQ-II), o qual mede inflexibilidade psicológica, o Depression Anxiety Stress Scale (DASS-21) e o Procrastination Assessment Scale-Students (PASS), além de um questionário sócio-demográfico.
Os resultados indicaram que 61,3% dos estudantes consideram que seu comportamento procrastinador é sempre ou quase sempre um problema em ao menos uma área acadêmica indicada no PASS (a saber, escrever trabalhos, estudar para provas, acompanhar leituras semanais, participar de reuniões, etc.), o que demonstra a ocorrência elevada desse problema entre universitários. Além disso, a partir dos resultados foi encontrada uma correlação positiva significativa entre procrastinação acadêmica e o sofrimento psicológico, com o estudo comprovando o papel mediador da inflexibilidade psicológica na relação de ambas. Ou seja, o comportamento procrastinador do estudante, mantido por sua inflexibilidade psicológica, resultou em maiores índices de problemas de saúde mental em universitários.
O conceito de inflexibilidade psicológica é essencial para se entender o sofrimento psicológico de universitários, além de servir na identificação de estudantes em risco. Tendo em vista seu efeito mediador na procrastinação acadêmica e em sintomas patológicos em estudantes, a psicologia da saúde deve realizar intervenções que tragam como foco a inflexibilidade psicológica, visando à redução dos níveis de ambos em universitários e, consequentemente, uma melhora em sua saúde mental.

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