Luto e perdas repentinas: contribuições da terapia cognitivo-comportamental


Basso, L. A., & Wainer, R. (2011). Luto e perdas repentinas: contribuições da terapia cognitivo-comportamental. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 7(1), 35-43.
Resenhado por Michelle Leite

            À morte foram designadas variadas concepções ao longo da história da humanidade. Encarada desde como um fato natural à ideia de finitude, fracasso e vontade do ser divino, a morte é considerada um tabu, cercada por mistérios, crenças e negações. O significado da morte é um determinante importante para a elaboração da perda do enlutado. Além disso, a forma com que a morte ocorreu, o grau de parentesco, o gênero, a intensidade do vínculo e os recursos internos são variáveis que possibilitam ou não a elaboração de um luto saudável. Este, chamado de luto normal, é uma resposta saudável à perda significativa de um ente querido, no qual o enlutado possui recursos adaptativos para expressar sua dor e seguir em frente. Por outro lado, o luto complicado ocorre quando tais recursos são escassos e se manifesta através de sintomas físicos e mentais e sentimentos de negação, repressão da dor e incapacidade na reorganização de suas vidas.
            Kübler-Ross (2005) propôs cinco estágios de efetivação do luto: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. No primeiro estágio, o enlutado se recusa a confrontar-se com a situação, tornando-se este um mecanismo de defesa temporário. O segundo é o momento de externalização da revolta, da procura de culpados e de questionamentos com vistas a aliviar o imenso sofrimento. No terceiro, tentativas de negociar e firmar acordos com figuras que podem ter poder de intervenção sobre a situação de perda (Deus, médicos, e etc.) estão presentes. Já o estágio da depressão é dividido em dois: a depressão reativa (quando ocorrem outras perdas devido à perda por morte) e a depressão preparatória (momento de reflexão sobre a vida). Por fim, no quinto e último estágio, a aceitação, os enlutados encontram-se mais serenos em relação à perda e conseguem expressar mais claramente seus sentimentos e emoções.
            Muitas pessoas que perdem um ente querido desenvolvem estratégias de enfrentamento pouco adaptativas e esquemas cognitivos disfuncionais, podendo ocasionar num luto complicado. Diante disso, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) pode auxiliar na busca de alívio e melhor aceitação da perda. Os objetivos da TCC para demandas de luto se baseiam na identificação de recursos disponíveis, avaliação das principais preocupações do paciente e auxílio na tomada de decisões, diminuição das alterações emocionais e estimulação da autoeficácia do enlutado, para que este saiba de suas capacidades e condições para lidar com esse momento. O terapeuta necessita expressar empatia e adequar-se ao ritmo do paciente, além de não fornecer informações desnecessárias ou não negar dados solicitados, diminuindo as chances de haver resistência ao tratamento ou distorções cognitivas sobre a terapia e/ ou terapeuta.
            As estratégias e técnicas terapêuticas eficazes para a terapia com pacientes enlutados são: resolução de problemas, automonitoramento, treino de habilidades sociais, ensino de estratégias de coping adaptativas, reestruturação cognitiva, prevenção de recaídas, psicoeducação, registro de pensamentos disfuncionais, roleplay, descoberta guiada e dessensibilização sistemática. Tais estratégias não possuem uma ordem ou um roteiro a ser seguido. Dessa forma, é necessário que o terapeuta adapte as estratégias ao funcionamento do paciente e utilize aspectos positivos, como a empatia, para concretizar a obtenção do êxito da terapia.

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