Intervenção psicológica em terminalidade e morte: Relato de experiência

12:00
Schmidt, B., Gabarra, L. M., & Gonçalves, J. R. (2011). Intervenção psicológica em terminalidade e morte:
           Relato de experiência. Paidéia21(50), 423-430.
Resenhado por Joelma Araújo

O atendimento aos pacientes e seus familiares, especialmente em casos de terminalidade e morte, são algumas das facetas do trabalho do psicólogo no hospital. Nesse contexto, as intervenções psicológicas devem resultar em expressão de sentimentos, melhora da qualidade de vida e facilitação da comunicação. Isso diminui a probabilidade de ocorrência de sintomas psicopatológicos futuros, como depressão e ansiedade, na pessoa em processo de terminalidade e principalmente em seus familiares, decorrentes da perda ou luto não elaborados.
Um ponto importante a ser trabalhado pelo profissional de psicologia no ambiente hospitalar em casos de terminalidade é o momento de despedida entre familiares e pacientes, crianças também podem ser incluídas neste processo. Esses espaços são oportunos para se promover o compartilhamento de sentimentos, a reaproximação da família e possibilitar a resolução de questões pendentes.
Apesar da terminalidade ser uma das demandas mais recorrentes no ambiente hospitalar, os autores trazem que a temática ainda é pouco vista nos cursos de formação acadêmica na área da saúde e principalmente no curso de psicologia. Nesse sentido, o artigo em questão surge da necessidade de refletir sobre a atuação psicológica com pacientes terminais. Para isso, realizou-se um relato de experiência cuja metodologia adotada foi o estudo de caso caracterizado pela apresentação e análise de um ritual de despedida entre o enfermo e seus familiares.
            O caso relatado é de um homem de 47 anos de idade, casado, pai de dois filhos biológicos e um não biológico (que se encontrava recluso em uma penitenciaria por tráfico de entorpecentes). O paciente foi acometido por um tumor maligno já em estágio avançado. Com o acompanhamento psicológico foi possível à realização do ritual de despedida entre enfermo e sua família. As intervenções psicológicas realizadas visaram a possibilitar aos familiares e ao paciente uma melhor elaboração do processo vivenciado, em que foi possível resolverem questões pendentes no relacionamento familiar, também a realização de desejos do paciente como se comunicar com o filho recluso e ser batizado na religião de sua esposa.
Assim, a esposa e os filhos aproveitaram os últimos momentos para rememorar os momentos bons vivenciados. Houve uma reaproximação da família, principalmente do paciente e sua mãe que viviam uma relação distante e conturbada, o que o tranquilizou bastante, o mesmo faleceu logo após conversar com sua genitora.
O acompanhamento psicológico realizado nesse caso contemplou as características do processo psicoterápico na terminalidade. Os resultados evidenciaram reconfiguração das relações familiares nos diferentes papéis e funções, na perspectiva de maior autonomia. O ritual de despedida se constitui em uma vivência que possibilita mudanças e resgates das relações familiares, bem como de elaboração do processo de luto; tanto para o sujeito doente e família quanto para a equipe de saúde.
Desta forma, os estudos da psicologia da saúde visam justamente contribuir para a produção de conhecimento científico que embasem as intervenções psicológicas nos serviços de saúde. A terminalidade é uma temática que requer muitos estudos para melhor contribuir com a qualificação do atendimento psicológico prestado ao doente terminal hospitalizado, bem como àqueles que o acompanham.

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