Rastreamento de sinais precoces de transtorno do espectro do autismo em crianças de creches de um município de São Paulo

Carvalho, F. A., Paula, C. S., Teixeira, M. C. T. V., Zaqueu, L. C. C., & D’Antino. M. E. F. (2013). Rastreamento de sinais precoces de transtorno do espectro do autismo em crianças de creches de um município de São Paulo. Revista Psicologia: Teoria e Prática, 15(2), 144-154.

Resenhado por Ariana Moura

O transtorno do espectro do autismo (TEA) é considerado um dos problemas de saúde mental que mais prejudicam o desenvolvimento infantil. O termo TEA refere-se a várias condições distintas: autismo, síndrome de Asperger e transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra especificação – TID-SOE. Os indivíduos com esses transtornos podem ser afetados em diferentes graus de comprometimento nas seguintes áreas do desenvolvimento: habilidades de interação social recíproca, habilidades de comunicação, comportamento, interesses e atividades.
Critérios clínicos para o estabelecimento do diagnóstico indicam que os primeiros sinais do transtorno podem ser identificados entre 6 e 12 meses, tornando-se mais perceptíveis e estáveis entre os 18 e 24 meses. Mesmo com a constatação de possibilidades de rastreamento ainda na primeira infância, apenas uma minoria dos casos é diagnosticada antes do período pré-escolar. No entanto, apesar de os sintomas de TEA serem perceptíveis antes dos três anos, momento em que já se deve iniciar o tratamento dos casos, é somente a partir dessa idade que uma criança pode receber o diagnóstico do transtorno.
Se o diagnóstico for realizado nos primeiros três anos e associado a intervenções precoces intensivas e de longo prazo, terá um impacto positivo no prognóstico, sobretudo em relação à adaptação psicossocial e familiar, ao desempenho cognitivo, ao comportamento adaptativo e às habilidades de comunicação e interação social. Pesquisas têm sugerido que um dos primeiros sinais observáveis em crianças com TEA seria um prejuízo significativo nos comportamentos ligados à comunicação social inicial, que está relacionada às habilidades sociais que surgem no primeiro ano de vida da criança: primeiramente, a orientação social e, em seguida, as habilidades de atenção compartilhada.
O objetivo desta pesquisa foi descrever as habilidades de orientação social e atenção compartilhada de uma amostra aleatória de 104 crianças, com idades entre 16 e 24 meses, identificando possíveis sinais precoces dos TEA nessa população. Para o rastreamento, utilizaram-se a escala Pictorial Infant Communication Scales (Pics) e a Modified Checklist for Autism in Toddlers (M-Chat).
 Dentre as crianças que foram avaliadas, quatro (3,8%) apresentaram sinais precoces de TEA. As habilidades mais comprometidas foram iniciação da atenção compartilhada e iniciação do comportamento de solicitação. Além disso, o principal achado do estudo foi verificar que provavelmente a busca ativa para o contato social foi a área mais deficitária entre as crianças em risco para o desenvolvimento de TEA que fizeram parte do trabalho. Geralmente crianças com esse perfil psicopatológico podem responder a solicitações sociais, mas falham ao iniciá-las, sendo esse aspecto sutil de extrema relevância para identificação precoce de sinais do transtorno.
Finalmente, esta pesquisa oferece a Psicologia da Saúde informações para implementação de programas de identificação e intervenção de TEA, os quais configuram uma das demandas atuais em relação ao estabelecimento de evidências epidemiológicas do transtorno no país.

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