A influência da depressão pós-parto sobre as práticas educativas parentais
Mangili, V. R., & Rodrigues, O. M. P. R. (2018). A influência da depressão pós-parto sobre as práticas educativas parentais. Contextos Clínicos, 11(3), 310-318. doi: 10.4013/ctc.2018.113.03
Resenhado por Luanna Silva
A
saúde mental materna é um fator de grande influência para a interação
mãe-bebê. A depressão pós-parto – transtorno caracterizado pela presença
de humor deprimido após
nascimento do bebê – tem efeito negativo na relação da díade, gerando
consequências significativas no desenvolvimento da criança. Estudos
indicam que a depressão puerperal materna está associada a dificuldades
para se organizar para cuidar do filho, menos demonstração de carinho e
menor estimulação do bebê.
A identificação e compreensão do efeito da depressão pós-parto materna sobre as práticas parentais têm se destacado como importantes temas
de investigação, visto que as práticas negativas frequentemente
adotadas por mães que sofrem de depressão podem ter consequências
irreversíveis no desenvolvimento infantil. Práticas parentais podem ser
definidas como estratégias comportamentais adotadas pelos pais para
orientação dos comportamentos das crianças.
As práticas positivas consistem na monitoria positiva e comportamento
moral, as negativas são compostas pelas práticas de monitoria negativa,
abuso físico e psicológico, punição inconsistente, disciplina relaxada e
negligência. O uso regular de práticas positivas em detrimento de
negativas é preditor de melhor interação entre a mãe e o bebê, assim
como melhor desenvolvimento da criança ao longo da vida. Além disso,
a presença de práticas negativas e ausência de práticas positivas pode
resultar em problemas de comportamento, comprometimento no
desenvolvimento nutricional, déficit de habilidades sociais,
dificuldades de aprendizagem e presença de sintomas de ansiedade.
A amostra deste
estudo foi composta por 60 mães de bebês com idade a partir de 45 dias.
Para a avaliação de depressão pós-parto foi utilizada a Escala de
Edinburgh. O Inventário de Estilos Parentais para Pais e Mães de Bebês
(IEPMB) foi utilizado para investigação das práticas educativas
parentais. A comparação das práticas parentais de mães com indicadores
clínicos para depressão pós-parto (G1) e mães sem sintomas depressivos
(G2) mostrou que as mães do G1 emitiram significativamente mais práticas
de punição inconsistente (p= 0,001) e disciplina relaxada (p= 0,037) do que as mães do G2. Foi encontrada correlação negativa entre a presença de sintomas de depressão pós-parto e a prática de monitoria positiva (p= 0,048), assim como com as práticas de punição inconsistente (p= 0,001) e disciplina relaxada (p= 0,01).
Observou-se
que a presença da depressão puerperal influenciou negativamente as
práticas parentais adotadas pelas mães. Esses resultados são
preocupantes, pois significam possível comprometimento na interação
mãe-bebê e consequentes problemas no desenvolvimento das crianças, os
quais podem repercutir por toda a vida. Dessa forma, fica evidente a
necessidade de acompanhar a saúde mental dessas mulheres. Programas que trabalhem com a identificação de indicadores de depressão no puerpério e período gestacional são importantes para oferecer às mães a atenção necessária nessa
fase de suas vidas. Adicionalmente, é importante a elaboração e
utilização de estratégias de intervenção que orientem as mulheres a
interagir de modo mais adequado com seus filhos, a fim de minimizar os
prejuízos do transtorno depressivo. A Psicologia da Saúde tem relevante
papel nesse processo, uma vez que as pesquisas e ações desenvolvidas nessa área são importantes para ajudar a refletir sobre as práticas parentais e seu impacto no desenvolvimento infantil.
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