Coronafobia: medo e o surto do COVID-19
Resenhado por Michelle Leite
Apesar da taxa de mortalidade estar
abaixo de outras doenças já existentes, o surto do COVID-19 tem causado
impactos psicológicos significantes. Pessoas relataram alta preocupação acerca
da possível contaminação e aumentaram comportamentos de higiene e evitação, a
partir da lavagem frequente das mãos, evitação do uso de transportes e lugares
públicos e uso de máscara (mesmo quando saudáveis). Tal preocupação acerca do
vírus pode ser ocasionada pelo fato de ser um agente novo, com alta velocidade
de contágio e pelas muitas incertezas sobre sua origem, natureza e curso. Além
disso, destaques diários e por vezes sensacionalistas da mídia, pessoas em
quarentena, esgotamento nas vendas de máscaras e luvas cirúrgicas e a falta de
confiança no sistema de saúde amplificam o medo de se infectar.
A coronafobia – fobia da
contaminação pelo COVID-19 – sofre influência de fatores psicológicos.
Pesquisas demonstraram que variáveis como intolerância à incerteza, vulnerabilidade
percebida a doenças e propensão à ansiedade desempenham papel importante nesse
tipo de fobia e são consideradas reações psicológicas também evidenciadas em
epidemias e pandemias anteriores. Comportamentos-problema emergentes no surto,
como a xenofobia relacionada ao coronavírus, parecem ser comuns quando as
pessoas são ameaçadas por uma infecção originada fora da comunidade e também
sofrem influência de tais variáveis. Junto a isso, a falta de informação e as “fake news” amplamente propagadas alimentam
medos e fobias relacionados à saúde, incluindo a coronafobia.
Diante desse cenário, a
coronafobia nos alerta para uma questão importante: o possível aumento dos
chamados pacientes “preocupados”, ou seja, aqueles que interpretarão mal os
seus sintomas como sinais de uma possível infecção pelo COVID-19 e lotarão as
urgências e emergências dos hospitais. Esses pacientes podem chegar às
emergências com outras pequenas doenças respiratórias combinadas à coronafobia.
Nesse momento, é importante o papel do psicólogo da saúde na pesquisa e
descrição das consequências psicológicas, comportamentais e sociais do
COVID-19, como o medo e cautela excessivos e a discriminação e, a partir disso,
criar estratégias de intervenção baseadas em evidências para lidar com tais
problemas.
Parabéns pelo texto. Muito rico de informação e perfeito para refletir.
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