A invisibilidade lésbica em estudos da saúde
Resenhado por Luiz Guilherme L. Silva
Marques, A. M.,
Oliveira, J. M. D., & Nogueira, C. (2013). A população lésbica em estudos
da saúde: Contributos para uma reflexão crítica. Ciência & Saúde
Coletiva, 18(7), 2037-2047.
A sigla LGBTQ+ agrupa diversas identidades não
heterossexuais, mas que possuem particularidades em vários aspectos, como os
fatores que influenciam o processo saúde-doença. Desde o século XX, há um
intenso debate acerca do gênero e da sexualidade. As identidades não
heterossexuais eram consideradas patologias segundo a primeira edição do Diagnostic and
Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-I),
em 1952. A partir de movimentos sociais e de psiquiatras e psicólogos, a
homossexualidade foi retirada do DSM em 1973; entretanto, a transexualidade continuou
categorizada como transtorno até 2018. Assim, esse texto objetiva abordar
alguns aspectos da saúde de mulheres que fazem sexo com mulheres (MSM) e lésbicas
e como a pouca visibilidade desse grupo minoritário pode agravar o processo
saúde-doença.
As minorias sexuais possuem um histórico de
preconceito e discriminação, o que acarreta a baixa procura por serviços de
saúde. Vale ressaltar, nessa perspectiva, o estresse de minoria, cujo conceito
é uma gama de estressores próprios vivenciados pelos grupos minoritários, que
têm a capacidade de agravar o status
de saúde desses indivíduos (Meyer, 1995). Em estudos sobre a saúde LGB,
encontra-se vasta literatura sobre homens gays e IST, mas poucos têm como foco
mulheres lésbicas. Isso se deve, em parte, ao viés da marginalização, ou seja,
a estigmatização de minorias sexuais desfavorece a afirmação de sua identidade.
Porém, alguns estudos identificaram que mulheres lésbicas e bissexuais têm
maior tendência à dependência de álcool e substâncias ilícitas, bem como ao sofrimento
psicológico, ansiedade, depressão, ideação suicida e transtornos psiquiátricos
(King et al., 2008; Mercer et al., 2007).
Em relação aos comportamentos preventivos em saúde,
verifica-se uma baixa adesão à mamografia, ao autoexame da mama e exame citopatológico,
assim como práticas preventivas de IST durante o sexo. As lésbicas citam as
mesmas razões que as heterossexuais, a saber: desconforto, desmotivação e
emoções negativas relacionadas ao exame preventivo do câncer de mama. Além
disso, as lésbicas creem que, se não têm relações sexuais com penetração
peniana, o risco de câncer de colo do útero é menor. Outra crença que não
condiz à realidade é acerca das IST, exclusivamente o HIV, uma vez que uma
parcela das mulheres lésbicas associam a infecção aos comportamentos
heterossexuais prévios ou ao uso de substâncias injetáveis. Outro fator que
dificulta a promoção de uma sexualidade saudável nesse grupo é a inexistência
de preservativos que contemple o sexo entre mulheres, visto que eles são feitos
para atividades sexuais nas quais há um pênis na relação.
Existem inúmeras lacunas na literatura acerca da
saúde das MSM e lésbicas que precisam ser preenchidas como forma de mitigar as
inequidades em saúde. Uma dessas inequidades pode ser diminuída por
profissionais de saúde em prática clínica, como médicos, ginecologistas e
psicólogos ao não pressupor a heterossexualidade e a cisgeneridade para
quaisquer pacientes. Tal pressuposição fundamentada na heteronormatividade
denota escassez de conhecimentos acerca da sexualidade e uma não adequação da
prática clínica à realidade do indivíduo. Ressalta-se aos ginecologistas que,
sempre quando for necessário, pergunte às pacientes quanto à sua orientação sexual
a fim de poder fazer um melhor aconselhamento profissional com base na
atividade sexual, visto que essa atitude é pouco vista nesses profissionais de
saúde.
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