A comorbidade de transtornos mentais e físicos com dor crônica autoreferida nas costas ou no pescoço: resultados da Pesquisa de Saúde Mental na China

 

Xu, Y., Wang, Y., Chen, J., He, Y., Zeng, Q., Huang, Y., Xu, X., Lu, J., Wang, Z., Sun, X., Chen, J., Yan, F., Li, T., Guo, W., Xu, G., Tian, H., Xu, X., Ma, Y., Wang, L., … Li, G. (2020). The comorbidity of mental and physical disorders with self-reported chronic back or neck pain: Results from the China Mental Health Survey. Journal of Affective Disorders, 260, 334–341. https://doi.org/10.1016/j.jad.2019.08.089

 

Resenhado por Matheus Macena

A dor crônica é uma das doenças crônicas mais comuns, com a dor nas costas e no pescoço entre as condições de dor crônica mais prevalentes. Três estudos na China relataram altas taxas de prevalência de dor crônica nas costas e no pescoço em pacientes com dor crônica. O primeiro estudo, realizado em Xangai, constatou que a prevalência ao longo da vida de dor crônica no pescoço entre pacientes ambulatoriais com condições de dor crônica foi de 42,9%. O segundo, realizado em Pequim, apontou a região lombar (47,23%) e o pescoço (29,92%) como os dois locais mais comuns de dor crônica. O terceiro estudo, realizado na província de Anhui, constatou que a prevalência pontual de dor crônica nas costas ou no pescoço entre pacientes ambulatoriais com condições de dor foi de 59,8%. Além disso, sabe-se que problemas crônicos nas costas e no pescoço são mais comuns entre mulheres, idosos, obesos e trabalhadores de escritório. A literatura aponta para associações das condições de dores crônicas nas costas e no pescoço com outras condições crônicas de dor, outras doenças físicas e transtornos mentais. Por exemplo, existem pessoas mais propensas a dores de cabeças e transtornos mentais (transtornos do humor, transtornos de ansiedade, abuso/dependência de álcool) devido a dores nos pescoços ou nas costas. Essas comorbidades de saúde mental em pacientes com dores crônicas nas costas ou no pescoço levam a uma qualidade de vida inferior e níveis mais elevados de incapacidade.

Neste artigo, foram utilizados dados da China Mental Health Survey (CMHS), que é a primeira pesquisa epidemiológica em larga escala de transtornos mentais conduzida na China. Os dados analisados exploraram a associação entre dores crônicas nas costas ou no pescoço e outras condições crônicas de dor, condições físicas crônicas e transtornos mentais. Os objetivos foram três: (1) estimar a prevalência de dores crônicas nas costas ou no pescoço em adultos chineses nos últimos 12 meses e ao longo da vida, (2) estabelecer a prevalência e probabilidade de transtornos físicos ou mentais comórbidos entre pessoas com dores crônicas nas costas ou no pescoço, e (3) avaliar o nível de incapacidade associado às dores crônicas nas costas ou no pescoço.

Na amostra estudada, a prevalência de dor crônica nas costas ou no pescoço nos últimos 12 meses foi de 10,8%. A maioria dos respondentes com dor crônica nas costas ou no pescoço (71,2%) relatou pelo menos uma outra condição comórbida, incluindo outras condições de dor crônica (53,4%), condições físicas crônicas (37,9%) e transtornos mentais (23,9%). Foi encontrado, por regressão logística, que transtornos de humor (OR = 3,7, IC 95%: 2,8-4,8) mostraram uma associação mais forte com dor crônica nas costas ou no pescoço do que transtornos de ansiedade e transtornos relacionados a substâncias. As dores crônicas e as condições físicas mais comuns estavam significativamente associadas à dor crônica nas costas ou no pescoço. Comorbidades físicas e mentais explicaram 0,7% da associação entre dor crônica nas costas ou no pescoço e incapacidade.

A dor crônica nas costas ou no pescoço e a comorbidade físico-mental são comuns, ao passo em que a dor crônica nessas regiões pode aumentar a probabilidade de outras doenças físicas e mentais. Esses achados são relevantes para a psicologia da saúde, pois um entendimento aprofundado dessas condições de saúde tende a aprimorar as habilidades diagnósticas e o gerenciamento dos problemas de saúde comórbidos, tanto para tratamentos clínicos, quanto para a educação pública em saúde.

 

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