Correlações entre crenças em saúde e cefaleia crônica infantil

 

Caruso, A., Grolnick, W., Mueller, C., Kaczynski, K., Chang, C. Y. H., & Lebel, A. (2022). Health mindsets               in pediatric chronic headache. Journal of Pediatric Psychology47(4), 391-402. https://doi.org/10.1093/jpepsy/jsab115

Resenhado por Júlia Nunes Cardoso

            Os diagnósticos de cefaleia crônica pediátrica são prevalentes e debilitantes, visto que crianças e adolescentes com cefaleia crônica podem ter seu funcionamento acadêmico, social e familiar comprometidos, além de estarem mais vulneráveis a quadros de adoecimento psicológico e apresentarem qualidade de vida reduzida, semelhante a crianças diagnosticadas com câncer e artrite. Devido ao caráter de cronicidade da doença, seu tratamento é permanente, o que aumenta as chances de adesão inadequada ao tratamento. O mindset em saúde podem ser um fator de proteção contra os obstáculos para o tratamento das cefaleias crônicas pediátricas. Esse novo construto representa uma área de pesquisa crescente e promissora na psicologia da saúde. A teoria do mindset em saúde refere-se a indivíduos que mantêm uma mentalidade fixa sobre a saúde - vendo a doença como negativa e imutável, versus um mindset de crescimento - percebendo a saúde como melhorável por meio de esforços e estratégias adequadas. Assim, o objetivo deste estudo foi investigar como o mindset das crianças em relação à sua saúde se relacionam com avaliações de contratempos no tratamento, estratégias de enfrentamento, avaliações de qualidade e satisfação com a vida e a incapacidade funcional. 

            Participaram da pesquisa 88 crianças e adolescentes, com idades entre 10 e 17 anos. Utilizou-se a Health Mindset Scale para mensurar o mindset em saúde. Itens adaptados da What I Felt Scale foram utilizados para mensurar as avaliações cognitivas. Para as estratégias de coping utilizou-se uma adaptação do Children’s Coping with Academic Failure Questionnaire e o Pain Response Inventory. A qualidade e satisfação com a vida foram mensuradas com a Pediatric Quality of Life Inventory e a Satisfaction with Life Scale. Já a incapacidade funcional foi avaliada por meio do Functional Disability Inventory.

            Os resultados demonstraram que crianças com escores mais altos de mindset de crescimento eram mais propensas a avaliar contratempos de tratamento como um desafio e tinham maior satisfação com a vida. As mentalidades de crescimento foram negativamente correlacionadas com as percepções de contratempos do tratamento como uma ameaça, enfrentamento passivo da dor e enfrentamento passivo dos contratempos do tratamento. As mentalidades de crescimento foram negativamente relacionadas a problemas de qualidade de vida nos domínios emocional, social e escolar. A incapacidade funcional foi negativamente associada à mentalidade de saúde das crianças, de modo que as crianças com maior incapacidade funcional se classificaram como tendo mentalidade de crescimento inferior.

            Esses achados são importantes pois, entendendo as correlações encontradas, é possível intervir nos aspectos psicológicos que comprometem a adesão adequada ao tratamento. As contribuições da psicologia da saúde se encaminham para a flexibilização das crenças desadaptativas que o indivíduo apresenta sobre a saúde, tornando mais realista sua percepção sobre o quadro de adoecimento e apresentando medidas pessoais de controle da dor.

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