Pain psychology in the 21st century: Lessons learned and moving forward
Flink, I. K., Reme, S., Jacobsen, H. B., Glombiewski,
J., Vlaeyen, J. W. S., Nicholas, M. K., Main, C. J., Peters, M., Williams, A.
C. C., Schrooten, M. G. S., Shaw, W., & Boersma, K. (2020). Pain psychology
in the 21st century: Lessons learned and moving forward. Scandinavian Journal
of Pain, 20(2), 229-238.
https://doi.org/10.1515/sjpain-2019-0180
Resenhado
por Giulia
A Psicologia da dor tem avançado
significativamente nas últimas décadas, proporcionando maior conhecimento
acerca dos fatores psicológicos que podem determinar a dor. O artigo se
inspirou no trabalho do professor Steven J. Linton, um dos pioneiros e
principais contribuintes para o desenvolvimento da Psicologia da Dor, a fim de traçar
uma síntese de estado da arte com pertinentes descobertas para esse campo.
O modelo de medo-evitação é um marco
teórico central na Psicologia da dor, sendo utilizado para descrever como
pessoas desenvolvem e mantêm dor crônica. Ele tem guiado o desenvolvimento de
intervenções psicológicas e hoje é apresentado como alternativa para o modelo
biopsicossocial. Segundo tal modelo, o elemento “evitação” pode impactar no
sucesso do tratamento e predizer piores debilitações ligadas à dor crônica. Por
serem fatores modificáveis, o medo e a evitação são possíveis alvos de
intervenção para tratamento e prevenção de condições de saúde relacionadas a
dor. Sabe-se, também, que há forte relação entre sofrimento mental, dor crônica
e prejuízos nas atividades diárias. Recentemente, foi reconhecido o diagnóstico
cunhado por “Dor crônica primária”, que se refere a um quadro no qual a dor e a
angústia causada por ela são o principal sintoma, ao invés de aparecerem como comorbidades
em outras condições de saúde. Logo, o novo diagnóstico integra aspectos
emocionais e comportamentais, adotando o sofrimento emocional ou a incapacidade
funcional como requisitos, além de tirar o foco da procura de explicações
biológicas para o adoecimento.
Outro elemento que vem sendo
estudado e desenvolvido é a prevenção secundária. O termo denota medidas
preventivas que favorecem o diagnóstico precoce e levam ao tratamento
apropriado para a doença. Atualmente, a prevenção secundaria se insere no
modelo cognitivo-comportamental da dor e contrasta com as linhas teóricas
tradicionalmente biomédicas, cujo principal objetivo era a cura. O estudo das
diferenças individuais dos pacientes contribuiu com a identificação de fatores
de risco para a dor crônica, possibilitando reconhecer casos em potencial e
intervir sobre eles. Além disso, a resiliência tem sido apontada como um fator
protetivo, tendo importante influência para um bom prognóstico no que se refere
ao funcionamento físico a longo prazo, uma vez que pode modificar a percepção
de dor e como ela interfere com o funcionamento do indivíduo. Há indícios de
que fortalecer a resiliência psicológica pode trazer ganhos clínicos
significativos, especialmente se combinado com as técnicas focadas nos fatores
de risco. Assim, novos alvos foram adicionados nas intervenções para refiná-las
e produzir evidências mais robustas de eficácia. A última versão do modelo de
medo-evitação incorporou afetos positivos e otimismo como fatores que podem
contribuir para estratégias mais adaptativas para lidar com a dor e seus
subsequentes debilitações.
Os
avanços demonstrados no artigo são frutos de décadas de pesquisas e
intervenções que foram aprimoradas com as evidências produzidas. Nesse sentido,
a psicologia da saúde pode trazer contribuições significativas, dando
seguimento ao estudo da relação entre os fatores psicológicos e a dor crônica, visando
a fortalecer as evidências existentes, bem como favorecendo prognósticos mais
positivos para pessoas que sofrem de dores crônicas.
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