Dor e comportamento suicida em idosos
Santos, J., Martins, S., Azevedo, L. F., & Fernandes, L.
(2020). Pain
as a risk factor for suicidal behavior in older adults: A systematic
review. Archives of Gerontology and Geriatrics, 87,
104000. https://doi.org/10.1016/j.archger.2019.104000
Resenhado por Luiz Guilherme Lima-Silva.
Eventos adversos na velhice,
como aposentadoria, viuvez, morte de amigos e familiares, isolamento e
comorbidades médicas podem ser fatores de risco para o comportamento suicida em
idosos. Cerca de um a cada quatro tentativas de suicídio nessa população são
efetivas e isso pode se dever à relutância em comunicar a intenção suicida. A
dor é apontada como uma das variáveis capazes de aumentar a probabilidade de
suicídio em idosos. Outra variável associada é a depressão, presente em 85% dos
casos de suicídio, que pode aumentar a susceptibilidade à dor. Assim, o presente
artigo buscou realizar uma revisão sistemática a fim de examinar se a dor é um
fator de risco de suicídio em idosos.
A revisão de literatura foi
conduzida para analisar a relação entre o comportamento suicida e dor em
idosos. Uma pesquisa foi conduzida nas bases de dados MEDLINE, ISI Web of Knowledge, Scopus e PsycArticle. Os
critérios de inclusão foram: população com 60 anos ou mais e estudos que
analisassem dor e comportamento suicida. A amostra consistiu em 66 artigos, nos
quais a dor foi verificada por meio de inquéritos judiciais e relatórios
médicos.
Os estudos avaliaram diversas
populações, como fazendeiros, pacientes com câncer de próstata, idosos de baixa
renda, usuários de serviços saúde em domicílio e comparação de homens e
mulheres. Entre 20 e 60% dos pacientes apresentaram queixas de dor antes de
cometer suicídio, sendo que a dor crônica foi o tipo mais relatado.
Encontrou-se que homens tendem a ser mais vulneráveis a dor que mulheres. Outro
achado foi que a dor aumentou o risco de suicídio entre 1,1 e 4,0 vezes, a dor
moderada e severa aumentou o risco de ideação suicida entre 1,5 e 2,7 vezes. Os
tipos específicos de dor que aumentaram a probabilidade de comportamento
suicida foram a osteoartrite, artrite/reumatismo, lombalgia, fibromialgia e
cefaleias, sendo este último o mais impactante nas tentativas de suicídio.
A importância dessa revisão
sistemática se deve, sobretudo, ao fato de demonstrar que a probabilidade de
comportamentos suicidas pode ser reduzida se houver o manejo efetivo da dor. A
Psicologia da Saúde é uma área responsável por analisar e intervir em situações
nas quais existem fatores psicológicos relativos ao processo saúde-doença, a
exemplo de problemas do ajustamento psicológico, como nos casos de cefaleia e
fibromialgia. Nesse sentido, um psicólogo da saúde pode intervir nesses
pacientes de modo a encontrar estratégias mais efetivas no manejo da dor, a
exemplo de identificar fatores desencadeantes da dor e estratégias para
enfrentar de modo que cause menos impactos negativos no bem-estar do indivíduo.
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