Ansiedade, crenças e covid-19 em dois períodos da pandemia no Brasil: um estudo comparativo [Anxiety, beliefs and Covid-19 in two periods of the pandemic in Brazil: A comparative study]

 

Turri, G. S. D. S., Fontes, R. E. B., Lima-Silva, L. G., & Faro, A. (2021). Anxiety, beliefs and Covid-19 in two periods of the pandemic in Brazil: A comparative studyRevista Costarricense de Psicología , 40 (2), 131-147.http://dx.doi.org/10.22544/rcps.v40i02.04

 

Resenhado por Maria Heloísa

 

A Covid-19 foi uma doença respiratória que se espalhou no planeta em 2020 e trouxe impactos psicológicos à saúde mental dos indivíduos.  Em cenários de crise na saúde pública, as crenças e os comportamentos ansiosos são fatores que exercem influência sobre os comportamentos de saúde. A ansiedade, por sua vez, é um estado composto por sintomas psicológicos e fisiológicos e foi identificada como estando relacionada ao isolamento social demandado no contexto. Já as crenças sobre os fenômenos, quando disfuncionais, podem desencadear comportamentos desadaptativos. Por tais razões, julgou-se relevante estudar o pensamento das pessoas acerca da pandemia a fim de se analisar quais fatores que ajudariam a explicar comportamentos de saúde. 

O objetivo do artigo foi identificar as principais evocações associadas ao coronavírus no período pré-crise (Fase 1), quando o distanciamento social passou a ser indicado, e intracrise (Fase 2), quando houve crescimento das hospitalizações, em brasileiros com e sem sintomas ansiosos. Para tanto, foi conduzido um estudo transversal online com amostragem por conveniência, em março e em junho de 2020, que contou com 2.144 e 4.970 participantes, respectivamente. Coletaram-se informações sobre o perfil sociodemográfico e incidência de sintomatologia ansiosa, tendo sido aplicada a escala Generalized Aanxiety Disorder (GAD-2). Foram evocadas palavras de forma livre a partir do disparador “coronavírus”.

Nos resultados, identificou-se que 36,3% participantes da primeira fase possuíam sintomas ansiosos, ao passo que na segunda fase, 60,2%. Os dados das evocações foram distribuídos em 4 quadrantes divididos por período (Fase 1 ou 2) e sintomatologia ansiosa (com e sem). O primeiro quadrante diz respeito às concepções mais comuns sobre a pandemia. Nele foi identificado que, de modo geral, as pessoas evocaram as palavras “medo” e “morte” e que indivíduos com a sintomatologia ansiosa apresentaram palavras com negativas em ambas as fases. O segundo quadrante refere-se às crenças que dão contexto ao quadrante anterior. Nele, foi identificado que a avaliação do isolamento variou a depender do grupo, sendo que, para pessoas com sintomas ansiosos, evento foi associado a uma adaptação difícil e, para os demais, foi observado como uma medida protetiva positiva.  O terceiro quadrante representa as crenças de um grupo menor, mas que são lembradas mais facilmente e, de modo geral, constatou-se que, em ambas as fases do estudo, a pandemia foi relacionada a mais intensas emoções negativas e insegurança.  O quarto quadrante, que serve para mostrar evocações mais gerais, trouxe as evocações mais positivas na Fase 1, já que foram identificadas palavras como “esperança” em ambos os grupos. Na Fase 2, as pessoas com sintomas ansiosos apresentaram evocações de conteúdo negativo, também remetendo-se a evocações de uma percepção de melhoria da situação apesar do medo e da preocupação decorrente do período.

A partir dos achados, o estudo identificou que pessoas com sintomatologia ansiosa tiveram uma visão mais catastrófica do futuro durante a Fase 1, ao passo que pessoas sem tais sintomas apresentaram um repertório adaptativo mais favorável. Na Fase 2, a perspectiva geral mais negativa do cenário foi associada à diminuição da capacidade de ajustamento nessa fase da pandemia. Por fim, entende-se que estudo é de fundamental importância para a Psicologia da Saúde, pois avalia fatores que influenciam comportamentos de saúde e trouxe apontamentos que para embasar pesquisas e a intervenção clínica em momentos de crise.

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