A associação de personalidade, avaliação, catastrofização e vigilância com ansiedade específica de sintomas gastrointestinais
McKinnon, A. C., Van Oudenhove, L., Tack, J., &
Jones, M. (2015). The association of personality, appraisal, catastrophising
and vigilance with gastrointestinal symptom-specific anxiety. Journal of
Health Psychology, 20(4), 456-465. doi: 10.1177/1359105313503027.
Resenhado por Luanna Silva
Os distúrbios gastrointestinais
funcionais são caracterizados por sintomas gastrointestinais persistentes na
ausência de qualquer anormalidade fisiológica. A síndrome do intestino
irritável (SII) e a dispepsia funcional (DF) estão entre os distúrbios gastrointestinais
funcionais mais comuns. Essas condições são debilitantes e tendem a causar
danos severos aos pacientes, comprometendo diversos domínios da vida, reduzindo
a percepção individual de controle e prejudicando a qualidade de vida.
Devido à falta
de etiologia orgânica, a explicação para essas doenças adota uma perspectiva
biopsicossocial, que levanta a hipótese de que o início e a perpetuação dessas
condições são o resultado da complexa interação de fatores psicológicos,
biológicos e sociais. Essa abordagem integrativa reconhece que a progressão,
gravidade e desfecho dos distúrbios gastrointestinais funcionais são fortemente
influenciados por uma série de fatores psicológicos.
Ansiedade
específica de sintomas gastrointestinais foi identificada como um fator central
que contribui para várias doenças gastrointestinais, com pesquisas sugerindo
que pode ser o preditor mais forte do diagnóstico de SII . Outra variável relevante é o neuroticismo. Esse traço de
personalidade tem sido identificado como um fator que predispõe indivíduos a
experimentar ansiedade de modo mais intenso, além de estar associado a
cognições disfuncionais importantes relacionadas ao modo como as pessoas
experenciam a dor. Quanto a isso, observa-se que, especialmente a hipervigilância
e catastrofização da dor, são relevantes para os distúrbios gastrointestinais
funcionais, sendo associadas a perpetuação dos sintomas. Por fim, considera-se
que a avaliação que as pessoas fazem dos eventos pode desempenhar um papel
importante na compreensão desses distúrbios. Estilos de avaliação positiva
podem servir como fatores de proteção, reduzindo as chances de engajamento em
cognições disfuncionais.
Este estudo
objetivou investigar a relação entre fatores psicossociais e a sintomatologia
do distúrbio gastrointestinal funcional, a partir do teste de um modelo
explicativo. Participaram 233 indivíduos, recrutados de modo online. Os
instrumentos aplicados avaliaram personalidade, cognições disfuncionais e
ansiedade gastrointestinal. O questionário Rome III foi adotado para
identificação de participantes com SII e DF.
Os resultados sugerem
que aqueles com alto nível de neuroticismo são mais propensos a se envolver em
avaliações negativas, o que, por sua vez, pode levar a maior catastrofização e vigilância.
Como desfecho, observa-se aumento da ansiedade gastrointestinal que tem efeito
direto nos sintomas de SII e DF. Um achado inesperado e novo foi que os escores
a escala de ansiedade gastrointestinal se correlacionaram mais com os itens que
avaliavam DF do que com os de SII. A identificação das variáveis psicológicas
envolvidas nos distúrbios gastrointestinais funcionais tem consequências para a
seleção de intervenções terapêuticas, pois ao definir o que contribui para os
desfechos indesejáveis é possível formular estratégias mais focais. Com base em
achados como este, psicólogos da saúde podem contribuir com maior efetividade
para o ajustamento psicológico de pacientes diagnosticados com SII e DF.
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