Preditores psicológicos e comportamentais da eficácia da vacina: Considerações para a Covid-19

 

Madison, A. A., Shrout, M. R., Renna, M. E., & Kiecolt-Glaser, J. (2021). Psychological and behavior predictors of vaccine efficacy: Considerations for COVID-19. Perspectives on Psychological Science, 16(2), 191-203. https://doi.org/10.1177/1745691621989243  

Resenhado por Beatriz Oliveira

 

 As vacinas são planejadas para dar ao sistema imunológico adaptativo uma memória duradoura de componentes virais ou bacterianos, assim ele se torna capaz de responder de maneira rápida e eficaz quando em contato com os patógenos reais. Embora a eficácia da vacina dependa em grande parte de fatores relacionados a ela, algumas características particulares da pessoa vacinada podem influenciar na resposta do sistema imunológico. Uma série de evidências robustas têm apontado a influência de fatores psicológicos, sociais e comportamentais no processo de imunização.

Este estudo, por meio de uma revisão de literatura, objetivou investigar aspectos psicológicos e comportamentais que estiveram associados às respostas de variadas vacinas para diferentes condições e a relevância desses achados para a pandemia do coronavírus. Além disso, discutiu sobre como as intervenções psicológicas e comportamentais poderiam aumentar a eficácia e reduzir os efeitos colaterais da vacina para a Covid-19. De modo geral, fatores importantes que estiveram relacionados à resposta vacinal em diferentes quadros de saúde foram estresse, depressão, solidão e comportamentos de saúde, dentre eles foram considerados tabagismo, nutrição, qualidade do sono e prática de atividades físicas.

O estresse, tanto a longo como a curto prazo, foi prejudicial para a resposta de diferentes tipos de vacina. Ele pode afetar a resposta imune primária e corroer os níveis de anticorpos ao decorrer do tempo. Essa desregulação imunológica associada ao estresse parece ser ainda mais preocupante em idosos, uma vez que o sistema imunológico tenta manter sob controle uma série de condições acumuladas ao longo da vida, respondendo menos a novos desafios. A depressão também apresentou relação com as respostas vacinais. Em algumas pessoas deprimidas, o sistema imunológico já está desregulado antes mesmo de receber a vacina, bem como respostas mais baixas de anticorpos estiveram relacionadas a fatores que podem ser disposicionais para sintomas depressivos, como alto traço de afeto negativo, neuroticismo e autoestima rebaixada.

A solidão foi apontada como um aspecto que pode afetar a função imunológica e prejudicar as respostas vacinais até mesmo em pessoas jovens e saudáveis. Ademais, em uma amostra de idosos, aqueles que haviam vivenciado o luto no ano anterior à vacinação foi encontrado níveis de anticorpos mais baixos. Comportamentos de saúde também podem ter associações com as respostas à vacina. Pessoas que fumam, que se alimentam de maneira inadequada, aquelas que tem privação de sono ou que são sedentárias, de algum modo podem ter o sistema imunológico prejudicado o que pode implicar na resposta vacinal.

Os aspectos levantados neste estudo são relevantes para a compreensão no processo de imunização da Covid-19, uma vez que estresse, depressão, solidão e alguns comportamentos de saúde foram recorrentes durante a crise. Desse modo, a psicologia da saúde, área que foca nos fatores psicológicos presentes no processo de adoecimento, pode auxiliar na prevenção e promoção de saúde, a fim de melhorar as respostas à vacinação durante o surto e minimizar os efeitos colaterais decorrentes da vacina.

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