Quais fatores psicológicos agravam a síndrome do intestino irritável? Desenvolvimento de um modelo explicativo
Tilburg, M. A., Palsson, O. S., & Whitehead, W. E.
(2013). Which psychological factors exacerbate irritable bowel syndrome?
Development of a comprehensive model. Journal of psychosomatic research, 74(6),
486-492. doi: 10.1016/j.jpsychores.2013.03.004.
Resenhado por Luanna Silva
Há evidências de que fatores
psicológicos afetam o início, a gravidade e a duração da Síndrome do Intestino
Irritável (SII), porém, ainda não está claro quais variáveis psicológicas são
as mais relevantes na explicação desses desfechos. A literatura sobre o tema
aponta alguns fatores comumente associados à SII. Os efeitos do estresse são amplamente
reconhecidos tanto por pacientes quanto por profissionais da saúde. As
evidências indicam que os sintomas da SII tendem a aumentar ou diminuir de
acordo com o estresse diário experimentado. Além disso, quando comparados às
pessoas sem SII, os pacientes com essa condição relatam mais eventos estressores
ao longo da vida, assim como se mostram mais reativos, ou seja, a exposição ao
estresse tem maior impacto psicológico para esses indivíduos.
Outra variável psicológica importante
associada à SII é o neuroticismo. Esse traço de personalidade descreve pessoas
que experimentam afeto negativo mais facilmente, sendo mais vulneráveis aos
eventos estressores. Existem resultados consistentes que mostram que indivíduos
com SII apresentam esse fator de personalidade com maior intensidade em
comparação com pessoas saudáveis. Por último, o modo de enfrentamento da dor
experenciada pelos pacientes é considerada um dos preditores mais robustos da
severidade dos sintomas de SII. A catastrofização da dor, definida como a
percepção aumentada da ameaça ou da gravidade da dor, e a somatização,
caracterizada pela tendência psicológica de relatar múltiplos sintomas físicos,
são frequentemente percebidas em pacientes com SII.
O presente estudo teve por objetivos identificar
quais desses fatores psicológicos são mais importantes na predição da gravidade
dos sintomas da SII e investigar como essas variáveis psicológicas estão relacionadas
entre si. Participaram 286 pacientes com SII recrutados por anúncios ou
referências médicas. Os instrumentos aplicados investigaram a severidade dos
sintomas de SII, histórico de abuso sexual e físico, eventos estressores
individuais e familiares, neuroticismo, ansiedade, somatização e
catastrofização.
O modelo final foi capaz de predizer 36%
da variância na severidade da SII. Catastrofização e somatização foram as duas
únicas variáveis psicológicas diretamente associadas à gravidade dos sintomas.
Ansiedade teve um importante lugar intermediário no modelo sendo associada
tanto ao aumento da catastrofização quanto da somatização. Neuroticismo e
eventos estressores da vida foram identificados apenas como varáveis associadas
ao aumento da ansiedade. Apenas o histórico de abuso sexual e físico não foi
relacionado a nenhuma variável do modelo.
Embora os dados não permitam estabelecer
uma relação de causa e efeito, os resultados sugerem que a abordagem mais promissora
para conter os efeitos negativos dos fatores psicológicos na SII é reduzir a
catastrofização e a somatização. A Terapia Cognitivo-Comportamental pode ser
útil para o tratamento desse público, ajudando a substituir estratégias de
enfrentamento desadaptativas por cognições e comportamentos mais saudáveis. É
muito importante que a Psicologia da Saúde contribua com mais estudos que
testem a influência das variáveis psicológicas sobre os sintomas da SII, pois
isso direcionará o tratamento, aumentando as suas possibilidades de efetividade.
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