Dor física e desesperança em adolescentes escolares
Faria,
D. A., Souza, E. D., Belo, V. S., & Botti, N. C. L. (2020). Dor física e
desesperança em adolescentes escolares. Brazilian Journal of Pain, 3(4),
354-358. http://dx.doi.org/10.5935/2595-0118.20200196
Resenhado
por Jéssica Dantas
A dor física musculoesquelética é
considerada um problema de saúde pública com alta prevalência na população e
impacto negativo na qualidade de vida dos indivíduos acometidos. A desesperança
envolve comportamentos e crenças pessimistas sobre situações ou pensamentos
futuros. Tanto a dor quanto a desesperança representam fatores de risco para o
comportamento suicida. O impacto da presença da dor em crianças e adolescentes
podem estar associados a diversos prejuízos físicos, psicológicos e escolares,
como insônia, dificuldades em realizar atividades de lazer e evasão escolar.
A dor física e a desesperança tornam
o adolescente, que já precisa lidar com diversas mudanças biopsicossociais,
mais vulnerável a desfechos de saúde problemáticos. Na literatura brasileira ainda
são escassos os estudos que investigam a relação entre dor física e
desesperança nesse público. Considerando esse cenário, o presente estudo teve
como objetivo analisar a prevalência e os fatores associados com a dor física e
a desesperança em adolescentes escolares. Para isso, foram utilizadas a Escala
Multidimensional de Avaliação de Dor (EMADOR) e a Beck Hopelessness Scale
(BHS). Participaram do estudo 270 adolescentes estudantes, entre 15 e 19 anos.
Os resultados mostraram que os
adolescentes apresentaram elevada ocorrência de dor física, especialmente na
parte anterior do corpo, mais localizada na cabeça, seguida de tronco e dos
membros. Na parte posterior a dor foi mais frequente na região lombar, seguida
de cabeça e pescoço e membros. Em relação à desesperança, a maioria da amostra
apresentou níveis mínimos (54,4%), porém uma considerável parcela apresentou
níveis moderados (11,1%) ou graves (5,6%). Em relação à dor, 62,2% relataram
dor moderada e 21,1% dor intensa. A dor aguda, que representou 52,2% da
amostra, foi mais frequente que a dor crônica, com 35,6%. A existência de
ocupação, a presença de dor crônica e de dor nas costas estiveram associadas à
desesperança grave. A maior ocorrência de dor se deu em adolescentes do sexo
feminino.
Observa-se que o estudo apontou
elevada presença de dor e desesperança em adolescentes, assim como a associação
entre elas. Apesar de os estudos que investiguem a associação entre essas
variáveis ainda sejam escassos nesse público, é possível supor que a dor
constante é um fator preditor da ocorrência de quadros de desesperança. Portanto,
a dor crônica frequentemente é acompanhada de outras manifestações físicas e/ou
emocionais que tornam a situação ainda mais problemática.
Enfim, trata-se de uma temática
bastante relevante para a Psicologia da Saúde, pois os possíveis problemas de
saúde associados ao acometimento de dores crônicas em adolescentes, dentre eles
a desesperança, indicam a necessidade de maiores investigações sobre a temática
para possibilitar o planejamento de intervenções eficazes no âmbito da Saúde
Pública. O adequado investimento e atenção por parte dos pesquisadores pode
resultar em redução das consequências a médio e longo prazo, assim como dos
impactos na vida adulta.
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