Preditores de sintomas de ansiedade e depressão no Brasil durante Covid-19
Zhang,
S.X., Huang, H., Li, J., Antonelli-Ponti, M., Paiva, S.F.d., & da Silva,
J.A. (2021). Predictors of depression and anxiety symptoms in Brazil during
COVID-19. International
Journal Environmental Research. Public Health, 18, 1-10. doi: 10.3390/ijerph18137026
Resenhado por Beatriz Oliveira
A pandemia da Covid-19 impactou a vida
das pessoas em diferentes aspectos cotidianos, sejam eles sociais ou
individuais. Estima-se, mundialmente, que a quantidade de indivíduos que
sofreram algum dano relacionado à pandemia seja maior que o de pessoas afetadas
pela Segunda Guerra Mundial. No Brasil, os números de casos e mortes pelo
coronavírus atingiu parâmetros que estiveram entre os maiores do mundo. Parte
desse impacto esteve associado à incerteza quanto a infecção viral e às medidas
de distanciamento adotadas que poderiam levar a sintomatologia ansiosa e
depressiva. A partir da presença desses sintomas psicológicos e outros fatores
emocionais, a Covid-19 foi se demonstrando como um problema não apenas
sanitário, mas também de saúde mental.
Este estudo objetivou identificar
preditores de sintomas de ansiedade e depressão na população brasileira durante
a pandemia de coronavírus. Esses preditores foram investigados em três fatores
distintos, como demográficos, de saúde e aspectos específicos da Covid-19. Em
relação às variáveis demográficas, foram consideradas gênero, idade, educação,
ocupação e número de filhos. Já nos aspectos de saúde, estiveram nas análises a
prática de exercícios físicos e a vivência com alguma condição crônica. No que
se refere aos pontos específicos da Covid-19, estavam inclusos sintomas da
infecção e a quantidade de horas navegando em notícias sobre a pandemia.
A pesquisa foi realizada de forma
online, entre os dias 9 e 22 de maio de 2020, e incluiu 23 estados brasileiros.
Para a coleta de dados foram utilizados um questionário sociodemográfico, o
Questionário de Saúde do Paciente (PHQ-9) e a Escala de Transtorno de Ansiedade
Generalizada (GAD-7). Ao final do estudo foram feitas as análises de 482
participantes, nos quais 54,1% eram mulheres. Mais de 70% da amostra
apresentaram sintomas depressivos, sendo que 22,8% demostraram depressão grave.
Em relação à ansiedade, 67,2% apresentaram sintomas ansiosos e 17,2% apontaram
nível de ansiedade severa. De modo geral, os principais preditores para ambos
os sintomas foram gênero, idade, número de filhos, ser empregado e o tempo lendo
informações online sobre a Covid-19.
Fatores como gênero e horas navegando
nas notícias a respeito da pandemia estiveram associados à presença de sintomas
tanto de depressão quanto de ansiedade. Quando comparadas aos homens, as
mulheres apresentaram maior propensão à sintomatologia ansiosa e depressiva,
bem como quanto mais tempo pesquisando sobre o coronavírus foi preditor para
ambos sintomas. Em relação à empregabilidade, o resultado difere da literatura
ao encontrar que funcionários apresentaram níveis mais altos de ansiedade em
comparação a pessoas sem emprego, aposentadas ou autônomas. No que diz respeito à idade e ao número de
filhos, foi possível perceber que quanto menor a idade ou menor quantidade de
filhos, maiores níveis de sintomas ansiosos e depressivos.
Os achados deste estudo indicam a
importância da intervenção psicológica e dos cuidados das organizações de saúde
com os grupos mais vulneráveis ao sofrimento no contexto pandêmico. Frente a
isso, sabe-se que a psicologia da saúde foca o processo saúde-doença que
engloba fatores orgânicos, aspectos comportamentais e emocionais no quadro de
adoecimento e, por isso, tendo em vista o impacto emocional decorrente da
Covid-19, pode auxiliar na prevenção e promoção de saúde, a fim de amenizar as
sequelas psicológicas resultantes da crise.
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