Insônia e dor crônica: Resultados de um programa interdisciplinar de reabilitação contra dor

 

Craner, J. R., & Flegge, L. G. (2021). Insomnia symptoms and chronic pain: Outcomes of an interdisciplinary pain rehabilitation program. Pain Practice, 22(2). https://doi.org/10.1111/papr.13075

 

Resenhado por Luiz Fernando de Andrade Melo

 

A insônia é um sintoma comum às pessoas que apresentam dores crônicas, de modo a impactar no seu condicionamento físico e na sua regulação emocional. Ela também está associada com o aumento da intensidade das dores principalmente após noites mal dormidas ou com algum prejuízo no sono. Para buscar intervenções sobre esses problemas, os programas interdisciplinares de reabilitação contra dor são considerados ferramentas para o tratamento da dor crônica e, sobretudo, são benéficos para os pacientes que apresentam insônia ligada à dor.

Pode-se dizer que há uma ligação entre o tratamento da dor crônica resultando em alterações nos níveis de insônia e vice-versa, em que o cuidado do sono pode auxiliar na redução da intensidade da dor. Entretanto, não há pesquisas que avaliem a mudança nos níveis de insônia do início ao fim nos programas de reabilitação, nem que descrevem seus sintomas clinicamente. Por tal razão, este estudo teve como objetivo analisar os sintomas de insônia coletivamente e individualmente desde a adesão a um programa de intervenção até sua conclusão, além de associá-los com a ansiedade, a depressão, a severidade da dor crônica e o estado de saúde.

Foram considerados 393 participantes que completaram um programa interdisciplinar de reabilitação para dor crônica entre 2018 e 2019 com duração de dez semanas e tratamento de 6 a 7 horas em dois ou três dias por semana. O tratamento integrou a Terapia de Aceitação e Compromisso, bem como a Educação em Neurociência da Dor. Utilizou-se Insomnia Severity Index – ISI23 com 7 itens que avaliam desde a severidade do início do sono até o sofrimento causado por problemas no sono. Seus escores iam de 0 a 28 pontos através de escala Likert de 5 pontos em cada item mensurado. Para medir a dor e o estado de saúde foram utilizados uma escala de 0 a 10 pontos, a Patient Reported Outcomes Measurement Information System (PROMIS) Pain Interference – Short Form e a PROMIS Global Health – Short Form. Por fim, utilizou-se a PROMIS Depression – Short Form 8ª e a PROMIS Anxiety – Short Form 8ª para depressão e ansiedade, respectivamente.

Os resultados demonstraram que sintomas graves e níveis altos da insônia são associados com maior sofrimento, aumento da dor, da interferência da dor na vida do paciente, bem como com a ansiedade e humor depressivo. Ainda que os pacientes com maiores níveis de insônia demonstrassem menos melhoria do tratamento da dor, a insônia e seus sintomas não impediram que o tratamento fosse efetivado. Na verdade, foi notado que os programas auxiliaram na redução dos sintomas de insônia para categorias menores: de grave para moderado e de moderado para leve. Todavia, a redução significativa dos sintomas só foi apresentada em apenas um terço dos participantes. Ademais, uma parte dos pacientes mantiveram níveis altos de insônia, reportando mais dores, sintomas depressivos e maior uso de medicação.

Estes dados representam que os programas interdisciplinares de reabilitação para dor crônica podem auxiliar na redução da insônia sentida entre indivíduos que apresentam esse quadro. Porém, sua eficácia pode ser acentuada caso exista a associação dos programas com um tratamento específico para insônia como a Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia. Tal associação se demonstra necessária porque tanto permite a melhora na qualidade do sono quanto auxilia no manejo da dor crônica, uma vez que está associada com a insônia. Com isso, o estudo tem sua importância para a Psicologia da Saúde pela descrição da comorbidade entre dor crônica e insônia, bem como ela pode alterar estados de humor e alterar os níveis de ansiedade do indivíduo.


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