Angústia psicológica e bem-estar entre pessoas com deficiência sensorial durante as medidas de confinamento da COVID-19

 Resenhado por Susana Santana

 

Merten, N., Schultz, A. A., Walsh, M. C., van Landingham, S. W., Peppard, P. E., Ryff, C. D. S., & Malecki, K. C. (2023). Psychological distress and well-being among sensory impaired individuals during COVID-19 lockdown measures. Annals of Epidemiology, 79, 19-23. https://doi.org/10.1016/j.annepidem.2023.01.002.

 

Em um contexto padrão, pessoas com deficiência costumam estar expostas a barreiras físicas, sociais e comunicacionais no seu cotidiano. Além disso, deficiências auditivas e visuais são condições crônicas prevalentes associadas a piores resultados de saúde mental. Num contexto de pandemia, como o da Covid-19, no qual houve limitações de contatos pessoais durante as medidas de distanciamento, a verificação do impacto dessas medidas na saúde de pessoas com deficiências sensoriais mais severas se tornou um fator de investigação.

O objetivo desse estudo foi determinar se a deficiência auditiva e/ou visual estava associada a mais sofrimento psicológico durante o tempo de medidas de restrição e bloqueios da pandemia de Covid-19, no período de maio a junho de 2020. Participaram do estudo 1341 adultos, com idades entre 20 e 92 anos, sendo 64% da amostra composta por mulheres. Foram coletados dados sobre a deficiência visual e auditiva e avaliadas medidas de saúde mental e bem-estar, através de instrumentos de autorrelato.

Dentre os resultados, foi verificado que a deficiência visual estava associada de modo estatisticamente significativo (p < 0,05) ao aumento da probabilidade de ansiedade generalizada (Odds Ratio [OR] = 2,10; intervalo de confiança de 95% [IC] = 1,32-3,29) e de sintomas depressivos (OR = 2,57; IC = 1,58-4,11) e a maior probabilidade de relatar solidão (OR = 1,65; IC = 1,00-2,64) e desesperança (OR = 1,45; IC = 1,01-2,08). Já a deficiência auditiva estava associada a mais solidão (OR = 1,80; IC = 1,05-2,98) e desesperança (OR = 1,42; IC = 0,99-2,03). Dentre comportamentos de enfrentamento, identificou-se que os indivíduos com deficiência sensorial escolheram menos frequentemente a caminhada como estratégia de enfrentamento para a adaptação psicológica durante esse período. Os resultados não foram significativos considerando o gênero, exceto para a percepção de solidão em mulheres com perda auditiva (OR = 2.52; IC = 1.37-4.50).

O estudo concluiu que pessoas com deficiência sensorial representaram uma população particularmente vulnerável durante a pandemia de Covid-19. Sugeriu-se investigações futuras para determinar razões subjacentes ao sofrimento psicológico nesse contexto e promover intervenções. Possíveis focos de estudo e intervenção podem envolver a possibilidade de mudanças na rede social ou nas atividades de lazer para pessoas com deficiências sensoriais. No campo da Psicologia da Saúde, as investigações objetivam estudar aspectos comportamentais, cognitivos, emocionais e/ou fatores psicossociais relacionados a desfechos em saúde. Dessa forma, considera-se que as contribuições dessa pesquisa apontam para a importância de aprofundar o conhecimento sobre aspectos psicossociais que são específicos da população do estudo. Isso possibilita o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento que considerem as particularidades sensoriais desse público.

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