Quais são as tendências comportamentais em pessoas com doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil?
Comportamento de risco para doenças crônicas não transmissíveis é
21% maior em jovens que em idosos. (2023, 23
de maio). Universidade Federal de Minas Gerais. https://ufmg.br/comunicacao/noticias/comportamento-de-risco-para-doencas-cronicas-nao-transmissiveis-e-21-maior-em-jovens-que-em-idosos
Boa
parte das doenças crônicas estão relacionadas a hábitos de risco. A notícia
aborda a pesquisa feita pela mestranda em nutrição Thais Caldeira, que analisou
cinco fatores comportamentais no risco de DCNT: consumo infrequente de frutas e
hortaliças, consumo regular de bebidas açucaradas, tabagismo, consumo abusivo
de álcool e prática de atividades físicas. O estudo encontrou que os
comportamentos de risco que mais associados foram o tabagismo, consumo de
bebidas açucaradas e consumo abusivo de álcool. Além disso, a coexistência de
comportamentos inadequados é maior entre homens e é inversamente associada à
idade e à escolaridade. Pesquisas como essas auxiliam a psicologia da saúde a
compreender a incidência de comportamentos de risco e e de proteção na
população.
·
Link e pesquisa:
Comportamento de risco para doenças crônicas não transmissíveis é 21%
maior em jovens que em idosos
Pesquisa destaca a relação entre
hábitos nocivos e presença de múltiplos fatores associados a DCNT em jovens
adultos de 18 a 34 anos
Estudo desenvolvido na Faculdade de Medicina
da UFMG analisou as tendências temporais dos comportamentos de risco
relacionados às doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil e revelou
estagnação alarmante entre 2009 e 2019. Também de acordo com o estudo, adultos
jovens (de 18 a 34 anos) apresentam 21% mais comportamentos de risco para DCNT
do que idosos com 60 anos ou mais.
“Essas doenças geralmente são associadas à
idade, e é muito preocupante a presença delas em indivíduos mais
jovens. É o que chamamos de perda prematura de anos de vida saudáveis”, pontua
Thaís Cristina Marquezine Caldeira, doutorada em Saúde Pública. Ela publicou
artigo sobre sua investigação em abril deste ano, na revista Preventing Chronic
Disease, do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), dos Estados
Unidos.
As DCNT são condições de longa duração que
resultam de combinação de fatores genéticos, fisiológicos, ambientais e
comportamentais. Algumas das mais comuns são doenças cardiovasculares,
diabetes, câncer, doenças respiratórias crônicas e obesidade. Grande parte da
sua ocorrência está relacionada com o acúmulo de hábitos de risco, como consumo
abusivo de álcool, consumo regular de bebidas açucaradas, tabagismo, má
alimentação e falta de atividades físicas.
Associadas à morte prematura, as doenças
crônicas não transmissíveis ainda podem gerar perda da qualidade de vida
saudável e prejuízos econômicos substanciais em todo o mundo.
E sobrecarregam o sistema de saúde.
Para a análise da tendência de
comportamentos de risco, foram utilizados dados do Sistema de Vigilância de
Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel)
de 2009 a 2019, que processou entrevistas com 567.336 adultos. O Vigitel é um
inquérito de base populacional feito anualmente por meio do telefone fixo, em
todas as 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal.
Fatores de risco
Orientada em seus estudos de mestrado pelo professor Rafael Claro, do
Departamento de Nutrição da Escola de Enfermagem da UFMG, Thais Caldeira
analisou cinco fatores comportamentais de risco principais para as DCNT:
consumo infrequente de frutas e hortaliças (menos de cinco dias na semana),
consumo regular de bebidas açucaradas (cinco ou mais dias na semana),
tabagismo, consumo abusivo de álcool (quatro ou mais doses em ocasião única,
nos últimos 30 dias, para mulheres, e cinco doses para homens) e prática de
atividade física insuficiente (menos de 150 minutos por semana). Foram
avaliadas também características sociodemográficas, como sexo, faixa etária e
escolaridade.
De acordo com a pesquisa, os comportamentos
de risco que mais contribuíram para a incidência de mais de uma DCNT foram
o tabagismo, o consumo de bebidas açucaradas e o consumo abusivo de álcool. Os
pesquisadores observaram que a coexistência dos comportamentos
inadequados é maior entre os homens do que entre as mulheres e está inversamente
associada a faixa etária e anos de escolaridade – ou seja, quanto maior a idade
e a escolaridade, menor a incidência. O artigo estimou que mais de 40% da
população mantém pelo menos dois desses comportamentos simultaneamente.
“Encontramos uma média de dois comportamentos
de risco por pessoa. O problema é que, quando se acumula outros comportamentos
de risco, como observado no estudo, eleva-se o risco de desenvolver DCNT ou
piorar o prognóstico das doenças que o indivíduo já tem”, afirma a
pesquisadora. Durante o período do estudo (2009-2019), ficou demonstrada
diminuição (de 4% a 5% ao ano) na coexistência de comportamentos de risco
para DCNT, com estabilização a partir de 2015.
Tratamento e prevenção
De acordo com o Ministério da Saúde, quase 60 milhões de brasileiros têm pelo
menos uma doença crônica não transmissível. Problemas como a diabetes, doenças
do coração, cânceres, doenças respiratórias crônicas e obesidade provocam em
torno de 72% dos óbitos no Brasil.
O quadro é grave, por isso a prevenção e o
tratamento adequado são de extrema importância. Os cuidados podem ser tomados
com acompanhamento de profissionais de saúde, uso de medicamentos (quando
necessário) e mudanças de hábitos. O tratamento depende do tipo da doença
crônica: geralmente, o paciente precisa tomar remédios pelo resto da vida.
“Uma das formas de prevenção está associada
à diminuição dos principais fatores de risco comportamentais. A prática de
múltiplos comportamentos de risco representa um desafio para o sistema de
saúde, uma vez que quatro DCNT (doença cardiovascular, câncer, diabetes e
doenças respiratórias) são responsáveis por grande carga de doenças no país, e
elas estão associadas a quatro comportamentos modificáveis: alimentação não
saudável, inatividade física, consumo excessivo de bebida alcoólica e
tabagismo”, explica Thaís.
Para a pesquisadora, é
crucial implementar políticas públicas abrangentes e programas de
educação em saúde. “A conscientização da população e o acesso aos serviços
de prevenção e tratamento adequados também são fundamentais para reverter o
quadro e melhorar a saúde da população”, ela enfatiza.
Pesquisa: Tendência temporal na coexistência de comportamentos de risco para
doenças não transmissíveis no Brasil: 2009-2019
Autora principal: Thaís Marquezine Caldeira
Orientador: Rafael Moreira Claro
Programa: Pós-graduação em Saúde Pública
Publicação: abril de 2023, na Preventing
Chronic Disease
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