Associação entre ansiedade e comportamentos de alimentação em pacientes com obesidade

 

Cifuentes, L., Campos, A., Silgado, M. L. R., Kelpin, S., Stutzman, J., Hurtado, M. D., Grothe, K., Hensrud, D. D., Clark, M. M., & Acosta, A. (2022). Association between anxiety and eating behaviors in patients with obesity. Obesity Pillars, 3(100021), 100021. https://doi.org/10.1016/j.obpill.2022.100021

 

Resenhado por Luiz Fernando de Andrade Melo

 

A obesidade é um problema de saúde que afeta 600 milhões de adultos em todo o planeta, contribuindo para o desenvolvimento de transtornos mentais, disfunções metabólicas e mecânicas, além do aumento da mortalidade. A ansiedade está relacionada com obesidade e pode alterar o consumo de alimentos, seja no aumento da alimentação, seja na sua diminuição. Entretanto, a relação dos comportamentos alimentares e a ansiedade não tem sido estudada amplamente entre pacientes com obesidade. Assim, este estudo teve como objetivo investigar essa associação com os componentes de tais comportamentos: a alimentação emocional, a alimentação descontrolada e a restrição cognitiva.

Participaram da pesquisa 438 pacientes com obesidade (IMC > 30). Utilizou-se a Hospital Anxiety and Depression Scale – HADS para avaliação de sintomas ansiosos e depressivos. Além disso, foram utilizados o Three-Factor Eating Questionnaire – TFEQ-R21 e o Wieght Efficacy Lifestyle Questionnaire – WEL para mensurar comportamentos alimentares e comportamentos para controle do peso, respectivamente.

Os resultados demonstraram correlação positiva entre ansiedade e dois componentes da TFEQ-R21, alimentação emocional e alimentação descontrolada, e correlação negativa com os cinco fatores do WEL para controle do peso. A alimentação emocional, a alimentação descontrolada e a restrição cognitiva foram significativamente diferentes entre pessoas sem e com sintomas ansiosos. Ademais, quem não apresentou sintomas ansiosos também teve maiores níveis de autoeficácia para resistir a alimentação diante de emoções negativas, disponibilidade de comida, pressão social, desconforto físico e atividades positivas.

A partir do estudo notou-se o papel da ansiedade nos comportamentos alimentares de pessoas com obesidade. Elas constituem um grupo vulnerável a transtornos psicológicos, já que possuem menor suporte social e enfrentam maior discriminação em comparação com pessoas de peso saudável. Pacientes com obesidade também apresentam mais sintomas ansiosos e depressivos, que tendem a estar associados com os menores níveis de atividade física. Dada sua maior vulnerabilidade à ansiedade e o impacto desta nos comportamentos alimentares desses pacientes, observa-se que intervenções psicológicas podem beneficiar a relação que o indivíduo tem com a doença. O reforço da autoeficácia, por exemplo, pode ser uma alternativa para que tais pessoas consigam lidar melhor com sua alimentação em resposta a demandas psicológicas e emocionais vivenciadas.

Os dados também destacaram a importância de abordar a ansiedade como parte integrante do tratamento da obesidade, ressaltando a necessidade de intervenções que considerem aspectos físicos e psicológicos da doença crônica. É também importante notar que ansiedade interfere nos mecanismos de regulação emocional, uma vez que o paciente com obesidade e sintomas ansiosos pode utilizar da alimentação como estratégia para lidar com suas emoções negativas, o que pode agravar a doença física. Sendo assim, o estudo corrobora as pesquisas em Psicologia da Saúde no sentido de estabelecer base para pesquisas futuras que avaliem o papel da ansiedade nos comportamentos alimentares de pessoas com obesidade e, assim, propor tratamentos específicos que estejam pautados nessa associação.

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