Crescimento pós-traumático no câncer de mama: Centralidade de evento e coping
Campos, J. O. C., Coelho, C. C. A.,
& Trentini, C. M. (2021). Crescimento pós-traumático no câncer de mama: Centralidade de
evento e coping. Psico-USF, 26 (3), 417-428. https://doi.org/10.1590/1413-82712021260302
Resenhado por Thayslane Larissa Ribeiro Almeida
O câncer de
mama é uma doença crônica não transmissível que representa 15% dos casos de
câncer no Brasil. Além do adoecimento físico, a enfermidade está associada a
diversos aspectos psicológicos, como a presença de sintomatologia ansiosa e
depressiva, além de emoções negativas, tal qual medo, angústia, raiva e culpa.
Isso pode estar também relacionado ao fato desse tipo de câncer se localizar em
um órgão comumente relacionado à sensualidade, feminilidade e maternidade.
A vivência do câncer de mama está
associada a diversos estressores. Nesse sentido, a investigação de conceitos
como o de Crescimento Pós-Traumático (CPT) se faz relevante. Esse construto
refere-se a mudanças positivas no indivíduo após vivenciar uma situação
estressora ou traumática e o efeito dessa situação depende também da
interpretação de quem a vivencia. Sendo assim, estudos demonstraram a
importância de se estudar também a centralidade do evento, que é o quanto
aquela situação estressora foi marcante na vida do indivíduo em relação a suas
escolhas e formação de identidade. Outra importante variável relacionada a esse
contexto é o coping, que pode ser
entendido como o conjunto de estratégias de enfrentamento em relação a
situações adversas. No estudo em tela, foram consideradas estratégias de coping adaptativas aquelas com foco no
problema, ou seja, em meio a uma situação estressora a pessoa busca
solucioná-la. Por outro lado, foram julgadas desadaptativas as estratégias
focadas na emoção, sendo aquelas que objetivam a regulação emocional frente a um
evento estressor. Ademais, estratégias por busca de suporte social e
relacionadas à religiosidade também foram levadas em consideração.
O objetivo geral da pesquisa foi
investigar o CPT e fatores associados, em mulheres que tiveram câncer de mama e
realizaram o tratamento. Já os objetivos específicos estiveram voltados a
investigar a relação entre o CPT e variáveis como centralidade do evento,
estilos de coping, dados
sociodemográficos e clínicos, além de identificar os preditores de CPT dentre
as variáveis anteriormente citadas.
Participaram
do estudo 65 mulheres, com média de idade de 47,86 anos (DP= 8,43), que terminaram o tratamento para câncer de
mama. Foram utilizados como instrumentos: questionário sociodemográfico e
clínico, escala de centralidade de eventos, inventário de crescimento
pós-traumático e escala de modos de enfrentamento de problemas. A pesquisa foi
realizada de forma on-line e divulgada por meio de redes sociais.
Os
resultados demonstraram que a maioria (86,5%) das participantes percebeu a
vivência do câncer como muito grave. Em relação ao impacto psicológico, 64,2%
da amostra considerou de moderado a alto. Os dados também mostraram que
estratégias de coping focadas no
problema, a exemplo de busca por suporte social e práticas religiosas,
correlacionam-se positivamente com CPT.
Os achados deste estudo são
relevantes para a psicologia da saúde por trazer a noção de que situações
adversas não acarretam, necessariamente, em desfechos negativos. A partir da
investigação do CPT, construto ainda pouco investigado no cenário brasileiro, e
de outros conceitos já estudados por essa área do saber, como o coping. Parece faltar algo aqui. Por fim, esses dados
podem contribuir para o desenvolvimento de intervenções de saúde para o público
das pessoas com câncer de mama.
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