Terapia baseada em mindfulness para insônia em idosos com dificuldades de sono: um ensaio clínico randomizado.

19:27

 

Perini, F., Wong, K. F., Lin, J., Hassirim, Z., Ong, J. L., Lo, J., Ong J. C., Doshi, k & Lim, J. (2023). Mindfulness-based therapy for insomnia for older adults with sleep difficulties: A randomized clinical trial. Psychological Medicine, 53(3), 1038-1048. https://doi.org/10.1017/S0033291721002476

Resenhado por Lucas Souza

 

Um sono adequado é fundamental para a manutenção da saúde, qualidade de vida e funcionalidade. Além disso, o sono é um fator de risco modificável, visto que pode melhorado a partir de intervenções em saúde. Nesse cenário, intervenções psicológicas baseadas em mindfulness surgem como alternativa para beneficiar o sono. O mindfulness é um componente da chamada “terceira onda” das terapias cognitivo comportamentais que se baseia na ideia de cultivar a atenção plena no momento presente de maneira intencional, trazendo atitudes de aceitação e não julgamento para as experiências vivenciadas.

O atual estudo se trata de um ensaio clínico randomizado que objetivou comparar a utilização da Terapia para Insônia Baseada em Mindfulness [Mindfulness-Based Therapy for Insomnia (MBTI)] com o Programa Higiene do sono, Educação e Exercício [Sleep Hygiene, Education, and Exercise Program (SHEEP)] em idosos com queixas relacionadas ao sono. Foram incluídos 127 indivíduos com idade entre 50 e 80 anos, sem limitação cognitiva e que se queixaram de problemas sono no último mês. Os participantes foram divididos de forma aleatória para compor os dois braços de intervenção: 65 indivíduos no grupo MBTI e 62 no grupo SHEEP. Ambos os grupos foram submetidos a intervenções semanais com duração de duas horas por oito semanas. Os desfechos avaliados foram os escores nos questionários Insomnia Severity Index (ISI) e Pittsburgh Sleep Quality Index (PSQI), além de parâmetros objetivos medidos por actigrafia e polissonografia (tempo de latência do sono [SOL] e tempo acordado após o início do sono [WASO]).

Os resultados mostraram redução do escore ISI nos dois grupos, com melhora significativamente maior no grupo MBTI e com tamanho do efeito, expresso como d de Cohen, de -1,27 (IC95% = −1,61; −0,89) para o grupo MBTI e -0,69 (IC95% = −0,96; −0,43) para o grupo SHEEP. A redução no escore PSQI foi equivalente entre os grupos MBTI (d = −0.63, IC95% = −0,90; −0,36) e SHEEP (d = −0,62, IC95% = −0,90; −0,36). Apesar de não haver diferença estatística significativa entre os grupos no que se refere às medidas objetivas do sono, apenas o grupo MBTI apresentou redução do parâmetro SOL na actigrafia (d = −0,25, IC95% = −0,45; −0,077), na polissonografia (d = −0,25, IC95% = −0,45; −0,077), além do parâmetro WASO na polissonografia (d = −0,26, IC95% = −0,50; −0,0057) após análise com bootstrap. Nenhum participante deixou o estudo devido a efeitos adversos. Esses resultados indicam efeitos comparáveis aos obtidos pela Terapia Cognitivo Comportamental para Insônia (TCC-I), tida como padrão-ouro no tratamento da insônia. Além disso, a intervenção MBTI foi ofertada a grupos de 15 pessoas, indicando uma possível utilidade em programas comunitários com objetivo de promoção de saúde, enquanto a TCC-I é voltada à clínica.

O presente estudo é importante para a psicologia da saúde por agregar na formação de evidências científicas voltadas ao manejo de alterações no sono. Como as alterações no sono configuram fator de risco para diversas condições em saúde física e mental, melhorar o padrão de sono é uma prioridade em relação à prevenção e promoção em saúde. É importante destacar que além das medidas comportamentais e intervenções psicológicas voltadas ao sono, muitas vezes pode ser necessário lançar mão de artifícios médicos (psicofármacos, intervenções cirúrgicas etc.) para lidar com distúrbios do sono.

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