Fadiga, depressão e qualidade de vida em crianças com esclerose múltipla

 

Florea, A., Maurey, H., Sauter, M., Bellesme, C., Sevin, C., & Deiva, K. (2019). Fatigue, depression, and quality of life in children with multiple sclerosis: A comparative study with other demyelinating diseases. Developmental Medicine & Child Neurology, 62(2):241-244. https://doi.org/10.1111/dmcn.14242

Resenhado por Laís Gabriela Rocha

A esclerose múltipla (EM) é a patologia inflamatória mais comum dentre as síndromes desmielinizantes do sistema nervoso central e ela afeta tanto a massa cinzenta quanto a branca do cérebro. Nestas doenças, a mielina é danificada e os impulsos nervosos têm dificuldade de funcionar normalmente, gerando disfunções temporárias ou permanentes. Além dos sintomas neurológicos, as funções cognitivas também são gravemente afetadas nas crianças que sofrem com a esclerose múltipla, principalmente na atenção, velocidade de processamento, habilidades motoras e visuais, funções executivas e memória. Ademais, podem estar associados sinais de depressão, ansiedade, TDAH, baixa qualidade no sono, bem como limitações físicas, educacionais e emocionais. Assim, este estudo buscou avaliar a fadiga, depressão e qualidade de vida em crianças com esclerose múltipla e comparar com as que possuem outras síndromes desmielinizantes.

A pesquisa teve como amostra 37 crianças e adolescentes com o diagnóstico de alguma dessas síndromes supracitadas acompanhadas no Centro de Referência Nacional de Doenças Neurológicas do Hospital Universitário de Paris. Foram utilizadas a Escala de Status de Deficiência Expandida (EDSS), a Escala de Gravidade da Fadiga, o Inventário de Depressão Multi-escore para Crianças e o Inventário Pediátrico de Qualidade de Vida (versão de autorrelato e versão relatada pelos pais).

Os resultados achados foram condizentes com os da literatura, em que a fadiga é o sintoma mais predominante nos pacientes pediátricos com esclerose múltipla e neste estudo os pacientes com outras síndromes relataram um índice ainda maior. Sinais de depressão foram mais reportados em pacientes com esclerose múltipla especificamente. Os pais também reportaram uma percepção até pior do que a das crianças na qualidade de vida, cansaço e dificuldades cognitivas delas. O comprometimento neurológico superior foi o principal preditor de diminuição da qualidade de vida relacionada à saúde entre crianças com EM. Para pais e pacientes do grupo de EM as dificuldades na escola e no funcionamento emocional foram as principais preocupações, as quais precisam ser levadas em conta durante sua proposta de cuidados e tratamento.

Por fim, o artigo se mostra relevante para a psicologia da saúde no sentido em que aponta a necessidade de avaliar e intervir sobre variáveis como fadiga e depressão em pacientes pediátricos portadores das referidas doenças degenerativas, cujos índices costumam ser altos e podem interferir bastante no funcionamento geral, bem-estar e qualidade de vida dos jovens. Foram recomendados o treinamento em atenção plena (mindfulness) e a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), principalmente no tratamento para depressão, além de um planejamento pedagógico individualizado com estratégias para atenuar a fadiga nas questões escolares.

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