Medicalização dos Desvios de Comportamento na Infância: Aspectos positivos e negativos

Brzozowski, F. & de Caponi, S. (2013). Medicalização dos desvios de comportamentos na infância: Aspectos positivos e negativos. Psicologia: Ciência e Profissão. 33, 208- 221.

Resenhado por Renata E. B. Fontes

A medicalização é um fenômeno que começou a ser estudado a partir da década de 70, surgindo quando profissionais da saúde começaram a fornecer explicações e tratamentos médicos para comportamentos que anteriormente não eram medicalizados. Os comportamentos considerados desviantes são aqueles onde, em determinados contextos, sofrem um julgamento social negativo e, portanto, são patologizados pelo discurso médico e cientifico a exemplos dos comportamentos relacionados ao alcoolismo, hiperatividade, transexualidade, dentre outros. A medicalização também pode ocorrer em processos naturais da vida, como a sexualidade, o desenvolvimento infantil, o envelhecimento, etc.
O presente artigo pretende fazer uma discussão sobre a medicalização dos comportamentos na infância, elencando seus aspectos positivos e negativos, além das consequências do fenômeno da medicalização. Inicialmente, os autores expõem que é errôneo creditar somente aspectos negativos a esse fenômeno, principalmente porque a sociedade aceita e valoriza o saber médico na produção de diagnósticos. Assim, destaca-se que o principal aspecto positivo é o de que o individuo diagnosticado recebe um cuidado individualizado e maior compreensão acerca dos seus comportamentos.
No trabalho os autores ainda expõem que grande parte dos desvios de comportamento considerados patológicos são observados ainda na infância, principalmente durante o processo de alfabetização, seja por não aprender a ler em uma determinada idade ou a dificuldade em prestar atenção na aula. Percebeu-se, então, o quão rasa é a percepção desses desvios, bem como o quanto ela é normativa, visto depender do contexto no qual o comportamento ocorre.
Um exemplo de patologia medicalizada é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). O tratamento medicamentoso é um dos mais indicados por profissionais de saúde para o TDAH, além de ser mais barato do que outros tipos de intervenções, tais como a psicoterapia e o atendimento individualizado na escola. Talvez este seja o motivo pelo qual a indústria farmacêutica aplicada à normalização de comportamentos desviantes seja altamente rentável. O indivíduo que anteriormente seria considerado como desobediente, inquieto, ganha o rótulo de doente, que precisa de um novo cuidado.
A reflexão proposta pelo artigo não nega a evolução de pesquisas na farmacologia, mas salienta a forma pela qual a medicalização promove uma individualização (patológica ou não) desses comportamentos, ao invés de analisá-los a partir de uma perspectiva social. Nessa lógica, o discurso fármaco-científico aparece como aquele que tem o poder de dizer quais comportamentos é patológico, de modo que os indivíduos que apresentem comportamentos desviantes sejam excluídos ou recorram aos medicamentos para alcançar um dado nível de ajustamento esperado. A psicologia também se insere nesse contexto de atenção e cabe ao psicólogo a criação de estratégias e instrumentos para a realização do diagnóstico e possibilidades de tratamento do TDAH de forma mais adequada. Essa ação se dá em um trabalho multidisciplinar, não somente com a equipe de saúde, mas também em parceria com as escolas.

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