Psicologia Clínica e Esclerose Lateral Amiotrófica
Pagnini, F., Rossi, G., Lunetta, C., Banfi, P., &
Corbo, M. (2010). Clinical psychology and Amyotrophic Lateral Sclerosis. Frontiers in Psychology,
1, 33. doi:10.3389/fpsyg.2010.00033.
Resenhado
por Danielle A. Menezes
A
esclerose lateral amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa progressiva
e fatal que afeta tanto os neurônios motores como os da medula espinhal
anterior, do tronco cerebral e córtex motor. Clinicamente, é caracterizada por
fraqueza muscular progressiva que leva à morte por insuficiência respiratória
geralmente dentro de três anos. Os pacientes se tornam implacavelmente imóveis,
podendo desenvolver uma fala prejudicada, muitas vezes ocasionando isolamento
social. Os últimos estágios da doença podem evoluir para paralisias, resultando
em um estado em que apenas o movimento muscular residual é possível.
Entretanto, funções cognitivas e a personalidade geralmente permanecem
intactos. Como não é possível parar a progressão da doença, o objetivo principal
no atendimento ao paciente se volta para a melhora de sua qualidade de vida.
Nesse
sentido, os psicólogos podem desempenhar um papel extremamente ativo no
processo de reabilitação de pacientes com ELA devido a sua capacidade em
fornecer um apoio específico para cada fase de progressão da doença. Além
disso, os psicólogos devem ajudar não somente os pacientes e familiares como
também a equipe multiprofissional.
Em
um primeiro momento, o psicólogo pode atuar na comunicação do diagnóstico,
devendo priorizar o conhecimento,
a compreensão e a aceitação de mecanismos de adaptação atuantes. Durante a
progressão da doença, é possível oferecer um setting emocionalmente seguro, onde seria possível a expressão de
emoções, bem como a administração de problemas práticos da vida diária
insurgentes com a progressão das limitações, a exemplo da perda da fala e da
motricidade. Além disso, há redução das funções respiratórias e consequente uso
de suporte respiratório. Essa dificuldade eleva a tensão emocional, fazendo com
que muitos pacientes rejeitem máscaras utilizadas com a finalidade de melhorar
tais funções. O psicólogo pode permitir uma expressão controlada destes
sentimentos, reduzindo a sintomatologia ansiosa, o que pode ser feito, por
exemplo, com técnicas de relaxamento.
Em
processos de tomada de decisão, referentes por exemplo à gestão de
nutrição ou realização de traqueostomia para manter a respiração, os pacientes
devem ser capazes de fazer escolhas. Entretanto, eles também precisam de tempo
para expressar seus medos e dúvidas. Quando o paciente tem que decidir sobre
uma intervenção, um termo de consentimento informado deve ser assinado. Modelos
de consentimento propõem duas etapas: a comunicação de informação clinicamente
relevante feita pelo médico e uma segunda fase, depois de algumas horas ou alguns
dias. Nesse momento, os pacientes podem expressar sentimentos e medos para o
psicólogo, e então somente depois dessa segunda etapa o consentimento seria
assinado.
Na
fase final, a atuação se volta para a gestão do sofrimento e preparação de
familiares para o luto. As
respostas a perguntas devem ser dadas de forma sensível e honesta, considerando
a capacidade dos indivíduos para compreender e gerenciar as informações que
eles estão pedindo.
Por fim, o trabalho
com os cuidadores é considerado crucial, pois as evidências apontam que há
influência do estado mental e físico deles na qualidade de vida do paciente com
ELA. Além disso, trabalhar para manter uma rede de apoio social próxima ao
paciente é relevante, já que interfere positivamente sobre seu bem-estar.
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