Manejo da Insônia Aguda na Prisão: Avaliação de uma Terapia Cognitiva Comportamental “One-Shot” para Intervenção da Insônia (TCC-I)
Randall, C., Nowakowski, S., & Ellis, J. G. (2018).
Managing Acute Insomnia in Prison: Evaluation of a “One-Shot” Cognitive
Behavioral Therapy for Insomnia (CBT-I) Intervention. Behavioral Sleep Medicine, 1-10. doi: 10.1080/15402002.2018.1518227
Resenhado
por Millena Bahiano
A terapia cognitivo-comportamental para insônia (TCC-I) incide sobre um
tratamento não farmacológico e de curto prazo, baseado na reestruturação de
pensamentos e crenças mal adaptativas as quais contribuem para o acometimento
da insônia. Os benefícios obtidos com a TCC-I tem sido equivalentes ao
tratamento com o uso de medicamentos hipnóticos, porém os efeitos identificados
possuem maior durabilidade após a interrupção do tratamento. Na prisão a
ocorrência de insônia aguda pode estar atrelada ao processo de adaptação do
indivíduo ao contexto prisional, bem como, as restrições impostas pelo ambiente
carcerário que incluem extrema falta de privacidade, horários regulados para
dormir e se alimentar, receber visitas, entre outros fatores associados com a
situação de privação de liberdade. A insônia
aguda é classificada pelo DSM-V como de curta duração (entre 2 semanas a 3
meses) e se não tratada pode evoluir para um quadro clínico de insônia crônica.
O presente estudo objetivou investigar a
eficácia preliminar da TCC para a insônia aguda, supondo que este tipo de
intervenção seria um tratamento eficaz para a redução de sintomas relacionados à
insônia na prisão e consequente melhoria do sono das pessoas privadas de
liberdade. A hipótese secundária incluiu que a intervenção da TCC-I também
estaria associada à reduções significativas de sintomatologia ansiosas e
depressivas nessa população. Os participantes da pesquisa foram 30 homens em
cumprimento de pena no regime fechado de uma prisão do Reino Unido. A
intervenção consistiu em uma única sessão de 60-70 min de TCC-I e um panfleto
de autogestão. Os participantes foram avaliados uma semana antes e quatro semanas
após o recebimento da intervenção. Também foram utilizados na pesquisa os
seguintes instrumentos: Índice de Gravidade de Insônia (ISI), Questionário de
Saúde do Paciente (PHQ), Questionário de Perturbação de
Ansiedade Generalizada (GAD) e um diário para monitoramento das condições
do sono.
Nos resultados, observou-se que a média de idade da população
investigada foi de 33 anos e os achados indicaram que
os participantes obtiveram com a intervenção da TCC-I uma melhora significativa
da continuidade do sono (73%), assim como, uma redução significativa de
sintomas depressivos (p < 0,001) e
ansiosos (p < 0,001) após um mês
da aplicação da intervenção. Quando perguntados sobre quais aspectos da
intervenção foram mais benéficos, os participantes evidenciaram que o diário do
sono os auxiliou significativamente na identificação dos padrões de
comportamento que tiveram impacto sobre o sono, e o panfleto de autogestão nas
instruções de controle de estímulos. Em suma, a pesquisa evidenciou que uma
sessão única de TCC-I foi eficaz no controle de sintomas agudos de insônia e
sintomatologias depressivas e ansiosas nas pessoas investigadas.
Portanto, para a Psicologia da Saúde a utilização
de intervenções e terapias que contribuam para a redução de sintomas físicos e
psicológicos durante o aprisionamento se faz importante para os indivíduos privados
de liberdade. Visto que, o ambiente prisional aumenta a vulnerabilidade das
pessoas presas para o desenvolvimento de insônia aguda no decurso do
aprisionamento, e que as consequências da insônia podem aumentar a agressividade,
queixas em saúde e problemas de adaptação na prisão.
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