A doença crônica orgânica na infância e as práticas educativas maternas
Piccinini,
C; Castro, E; Alvarenga, P; Vargas, S; Oliveira, Z. (2003). A doença crônica
orgânica na infância e as práticas educativas maternas. Estudos de Psicologia (8). doi: 10.1590/S1413-294X2003000100009
Resenhado por
Danielle Alves Menezes
Doenças
crônicas orgânicas podem atingir cerca de 15 a 18% da população infantil, a
exemplo da fibrose cística, disfunção renal crônica, cardiopatias e câncer.
Elas podem ter repercussões importantes na educação de crianças que possuem esse
tipo de enfermidade, especialmente no que diz respeito ao controle e orientação
do comportamento pelos pais. Já foi verificado que a percepção da gravidade da
doença e do desenvolvimento dos filhos é um importante fator mediador e
variável na condução da educação e de dificuldades apresentadas nessa tarefa.
Dentre essas dificuldades, pode-se citar extrema preocupação, irresponsividade
às necessidades reais da criança, superproteção, estilos interativos, ansioso e defensivo
ou, ainda, de negligência (quando os pais procuram evitar o envolvimento com a
criança por medo de que ela possa vir a morrer precocemente). Além disso, a
forma como a criança responderá à presença da doença crônica dependerá também
de fatores relacionados ao contexto familiar, impactando diretamente em seu
desenvolvimento cognitivo, social e emocional. Sabe-se, por exemplo, que crianças
com artrite reumatoide têm sido descritas como altamente sensíveis a críticas,
à frustração e demonstram autoimagem empobrecida.
Com
base nesse entendimento, foi realizado um estudo com o objetivo de comparar as
práticas educativas de mães de crianças com doença crônica orgânica com as
práticas utilizadas por mães de crianças sem doença crônica. A amostra foi
composta por 40 mães, dentre as quais 20 tinham filhos com doença crônica
orgânica (G1) e as demais com filhos sem doença crônica (G2). As crianças
tinham entre três e cinco anos de idade. A média de idade das mães em G1 foi de
30,1 anos e de 33,0 anos em G2. Foram excluídas deficiências físicas, dificuldades
de aprendizagem, enfermidades neurológicas, doenças psicossomáticas e doenças
mentais. Os instrumentos utilizados foram entrevista semiestruturada e uma avaliação
do desenvolvimento e da saúde da criança. Análise de conteúdo quantitativa
revelou que mães do grupo com doença crônica utilizaram menos práticas
coercitivas do que as mães do grupo sem doença crônica, porém não implicou,
necessariamente, o aumento da utilização de práticas indutivas. Entendeu-se que
a condição física da criança inibiu condução mais punitiva e que em G1 houve
número médio de práticas empregadas inferior ao G2, fato que precisaria ser
melhor investigado em pesquisas futuras. Problemas comportamentais em crianças
com doença crônica, possivelmente, são gerados por estilos mais permissivos.
A
investigação dos estilos parentais em doenças crônicas orgânicas na infância
contribui significativamente para compreensão de variáveis que podem
mediar/modular o ajustamento psicológico tanto de crianças como de pais. Nesse
sentido, a psicologia da saúde pode contribuir para melhorias de intervenções
junto aos pais no contexto clínico, já que é o campo de saber que se propõe a
investigar os fatores psicológicos que interferem no adoecimento.
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