Estratégias de enfrentamento de adultos vítimas de acidente vascular cerebral e sua relação com o ajustamento psicológico



Reis, C., & Faro, A. (2020). Estratégias de enfrentamento de adultos vítimas de acidente vascular cerebral e sua relação com o ajustamento psicológico. Psicogente, 23(43), 1-18. doi: 10.17081/psico.23.43.3379

Resenhado por Renata Elly

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é um déficit neurológico ocasionado por uma lesão aguda no sistema cerebral, sendo responsável por 27% das internações mundiais. No Brasil, doenças cardiovasculares são a maior causa de mortes e internações. Muitas vítimas de AVC são compelidas a viverem com a cronicidade das limitações advindas da doença, ocasionando a perda da independência, alterações na dinâmica familiar, afastamento ocupacional e, consequentemente, impactos financeiros. É possível afirmar que o AVC é um episódio estressor, uma vez que essas modificações ocorrem de modo rápido e inesperado na vida do vitimizado, demandando uso de recursos cognitivos e comportamentais para gerir essa carga estressora. Na Psicologia da Saúde esses recursos são conhecidos como estratégias de enfrentamento.
Estratégias de enfrentamentos são mecanismos adaptativos que buscam manejar os efeitos estressores de um evento que excede os recursos pessoais de ajustamento às adversidades. A depender dos contextos que essas estratégias são usadas e os recursos individuais disponíveis, a mobilização dessas estratégias pode levar a desfechos positivos ou negativos. No caso do AVC, o uso de estratégias funcionais possibilita a aceleração do processo de reabilitação e a melhoria de qualidade de vida. 
O presente estudo objetivou descrever e analisar as estratégias de enfrentamento mais utilizadas pelas pessoas após o AVC e de que forma o uso delas afetam de maneira positiva ou negativa na adaptação. Participaram da pesquisa 23 pessoas vítimas de AVC, contatadas por conveniência nas cidades de Lagarto e Aracaju/SE. Utilizou-se um questionário sociodemográfico e entrevistas abertas, as quais foram transcritas em sua totalidade e analisadas no programa Interface de R pour les analyse Multidimensionalles de textes et de Questionaires (IRAMUTEQ). O software possibilita a análise estatísticas de dados textuais, utilizando como um dos métodos a Classificação Hierárquica Descendente (CDH), que possibilita a obtenção de classes geradoras de sentido, através da repartição das palavras com base em sua frequência.
O dendrograma gerado pelo software apresentou três categorias que representam as teorias de enfrentamento, sendo elas foco no problema, foco na emoção e suporte social. O tipo de enfrentamento mais citado foi o foco no problema, sendo detectadas estratégias como busca pela reabilitação, superação das sequelas e reorganização financeira. Na categoria foco na emoção, duas estratégias de enfrentamento foram mais descritas pelos entrevistados, sendo elas, fé pra enfrentar a culpa e regulação emocional. A terceira categoria foi a do suporte social, que consiste na relação que as vítimas de AVC possuem com as pessoas ao seu redor, principalmente no período agudo da doença. Derivou-se dessa categoria três estratégias, reconhecimento da importância do apoio comunitário, ressignificação da vida e busca pelo suporte familiar.
Os achados da pesquisa demonstraram que as principais estratégias utilizadas pelos adultos vitimizados por AVC tiveram denotação positiva, atuando de forma beneficente no processo adaptativo, porém, também foi observado que o uso de estratégias de enfrentamento foram mais comuns entre indivíduos com funcionalidade pouco comprometida. O presente trabalho fornece evidência para a possibilidade da construção de programas de intervenção para esse público, melhorando a adaptação e, consequentemente, a qualidade de vida.

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