O efeito Dunning-Kruger: Ignorando a própria ignorância


Dunning, D. (2011). The Dunning-Kruger effect: On being ignorant of one's own ignorance. In J. M. Olson & M. P. Zanna (Eds.), Advances in experimental social psychology. v. 44. San Diego, CA: Academic Press. p. 259–265. Academic Press. doi:10.1016/b978-0-12-385522-0.00005-6
Resenhado por Matheus Macena

As pessoas têm diferentes níveis de habilidade, que diferem em uma gama variada de atividades. Nesse sentido, é possível para um observador externo avaliar quem é mais capacitado para realizar uma tarefa, mas há dificuldades quanto a autoavaliação de habilidades. Pessoas com defasagens substanciais em um conhecimento ou expertise têm dificuldade em perceber seus déficits. Quando há um desempenho ruim por conta da falta de propriedade sobre a habilidade exigida é usual que mesmo após diversos erros a crença sobre o desempenho continue positiva. Esse fenômeno é reconhecido como Dunning-Kruger, pelo qual indivíduos que possuem pouco conhecimento sobre um assunto acreditam saber mais do que outros mais bem preparados, fazendo com que tomem decisões erradas e cheguem a resultados indevidos.
Na prática, o ato de julgar uma performance baseado em um conhecimento por respondentes com desempenho fraco é marcado por um fardo duplo. Primeiro, os déficits no conhecimento acarretam em muitos erros na performance. Segundo, esses mesmos déficits impossibilitam reconhecer quando erros estão sendo cometidos. Como consequência, nos cenários de performance rebaixada a seleção de respostas parece razoável, mas é baseada em critérios que não estão vinculados com uma maior probabilidade de acerto. Esse fardo duplo se origina do fato de que as capacidades necessárias para realizar a ação de avaliar a acurácia de uma resposta e escolher a resposta correta, em primeira instância, são as mesmas. Em termos psicológicos, a habilidade necessária para executar a metacognição de julgar a acurácia das respostas é a mesma da ação cognitiva para produzir a resposta correta.
Para situações de avaliação de respostas aos itens de um teste, os participantes com melhor desempenho geral no teste têm maior capacidade de predição de acerto e erro em itens individuais, em comparação aos seus pares de pior desempenho. Essa diferença em metacognição foi encontrada em uma gama variada de tarefas como estudantes que realizam provas, leitores indicando o quão bem compreendem uma passagem narrativa, clínicos fazendo diagnósticos de saúde mental, experts em física identificando qual problema seria o mais complexo de ser resolvido e jogadores de tênis reconhecendo quais golpes são winners mais prováveis. Em cada um dos casos, indivíduos com melhor performance tiveram julgamento sobre acerto ou erro para os itens do teste mais acurado.
Operar sob conhecimento incompleto leva a erros e ao não reconhecimento dos mesmos. Por exemplo, os estudantes de pior desempenho dentre os que conduziram um exercício para entrevistar um pai que poderia estar abusando do próprio filho se avaliaram muito mais positivamente que a sua avaliação atribuída pelo instrutor. Dessa forma, o reconhecimento do efeito é pertinente à psicologia da saúde devido a sua influência nos processos de tomada de decisão e avaliação, e por consequência, nos processos de saúde-doença. Estar ciente dos possíveis vieses e limitações de seu próprio conhecimento possibilita uma melhor prática psicológica.

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