Ideação suicida na adolescência: Prevalência e fatores associados


 Souza, L. D. M., Ores, L., Oliveira, G. T., Sica Cruzeiro, A. L., Silva, R. A., Pinheiro, R. T., & Horta, B. L. (2010). Ideação suicida na adolescência: Prevalência e fatores associados. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 59(4), 286–292. doi: 10.1590/S0047-20852010000400004

Resenhado por Giulia Oliveira

Terceira principal causa de morte na adolescência, o suicídio se caracteriza como um importante problema de saúde pública, assim como a ideação suicida, a qual constitui um importante preditor de tentativas de suicídio. Estudos apontaram uma prevalência de tentativas suicidas de 7% entre jovens, havendo uma maior propensão do sexo feminino a apresentar esse tipo de comportamento. Desse modo, políticas públicas foram criadas com o intuito de reduzir as altas taxas de mortalidade e morbidade causadas pelo comportamento suicida, além de auxiliar na elaboração de mais investigações sobre o tema, que ainda são extremamente necessárias. O estudo de Souza et al. (2010) objetivou avaliar a prevalência de ideação suicida e seus fatores associados em jovens de 15 a 18 anos.


            Foi realizado um estudo transversal na cidade de Pelotas (RS) no ano de 2002, com uma amostra de 960 jovens entre 15 e 18 anos. O instrumento adotado foi um questionário autoaplicado e sigiloso elaborado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que abordava fatores como sexo, nível socioeconômico, escolaridade, uso de substâncias e comportamento agressivo, além do Self Reporting Questionnaire (SRQ-20), para aferição da presença de transtornos psiquiátricos menores e de ideação suicida. Para a análise estatística foi adotada a regressão logística, utilizada para a análise bivariada e multivariada. As variáveis de primeiro nível foram associadas ao desfecho de ideação suicida através da análise multivariada. Posteriormente, foram inseridas as variáveis de segundo nível e por fim, as variáveis de terceiro nível. Três níveis de variáveis foram analisados.
            Após a análise dos dados verificou-se a prevalência de 7,7% de ideação suicida entre os participantes. Os fatores mais significativamente associados a esse desfecho foram: baixa escolaridade materna, baixa escolaridade do adolescente, sedentarismo, uso de drogas no último mês bem como ter tomado “porre” no mesmo período, carregado revólver, faca ou canivete e ter se envolvido em duas ou mais brigas com agressão no último ano.
            Foi constatada uma variação dos resultados do estudo apresentado com relação à literatura científica, o que pode ser atribuído às diferenças metodológicas na aferição de ideação suicida, à seleção da amostra e a fatores socioculturais importantes. Apesar dessas divergências, o estudo corrobora resultados já encontrados na literatura sobre suicídio, como a tendência estatística de associação significativa da ideação suicida com o sexo feminino e a maior propensão de adolescentes com baixa escolaridade ou que possuem mães com baixa escolaridade a ideias suicidas. As limitações do estudo estão expressas na adoção do autorrelato como forma de investigação e a forma de aferição da ideação suicida que pode não ser a ideal para o desfecho. Os resultados encontrados embasam a criação de programas e projetos focalizados em adolescentes de baixa escolaridade como medidas interventivas a fim de prevenir o suicídio nesse grupo.

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