Relações entre Eventos Estressores Precoces, personalidade e sintomas psiquiátricos: Um estudo exploratório em amostra não clínica
Costa,
I.F., Tomaz, M.P.B., Araújo, M.G., Medeiros, N. S.B., & Galdino, M.K.C.
(2019). Relações entre
Eventos Estressores Precoces, personalidade e sintomas psiquiátricos: Um estudo
exploratório em amostra não clínica. Psicológica Porto Alegre, 50(1),
1-9. doi: 10.15448/1980-8623.2019.1.29581
Resenhado por Ariana Moura
As relações entre
a presença de Eventos Estressores Precoces (EEPs) ou traumas na infância e a adolescência
e o desenvolvimento de transtornos mentais na vida adulta têm se mostrado um
campo de investigação esclarecedor nos últimos anos. Estudos têm exposto o
impacto de adversidades ocorridas durante os períodos da infância e da
adolescência no estabelecimento de vulnerabilidades específicas ao desenvolvimento
de transtornos mentais. Os EEPs podem assumir diversos formatos, entretanto,
alguns são mais investigados em comparação a outros, a exemplo dos abusos
físico, sexual e emocional e das negligências física e emocional. Esses tipos
de EEPs são descritos como apresentando associação com transtornos mentais
diversos como depressão, transtorno bipolar, transtornos de ansiedade,
esquizofrenia, abuso de substâncias, transtornos de personalidade e risco de
suicídio.
Estudos também
têm apontado que a presença de traços específicos de personalidade pode
funcionar como fatores de vulnerabilidade importantes ao desenvolvimento de
transtornos mentais diversos como depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia,
abuso de substância, transtornos alimentares, fobia social, transtorno de
pânico, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno de ansiedade
generalizada e transtornos de personalidade. Levando em consideração a
influência que o ambiente exerce sobre a personalidade e a importância da
infância, sugere-se que eventos traumáticos ocorridos na infância podem
influenciar no desenvolvimento de traços de personalidade. Caso esse ambiente
tenha sido nocivo durante a infância, acredita-se que haja possibilidade de que
essas características se apresentem distintas na vida adulta em comparação a
pessoas sem esse histórico. O objetivo do presente estudo foi analisar a
possível relação entre EEPs, características de personalidade e sintomas
psiquiátricos em uma amostra não clínica.
Tratou-se de
uma investigação com delineamento transversal. Para a coleta de dados,
utilizou-se um questionário sociodemográfico, o Inventário de Autoavaliação
para Adultos (ASRI), o Questionário sobre Traumas na Infância (QUESI) e o
Inventário de Temperamento e Caráter (ITC-R). A amostra foi composta por 200
pessoas de ambos os sexos, com díade entre 18 e 30 anos. Os resultados observados
sugeriram que a presença de EEPs pode exercer influência
sobre o desenvolvimento de características de personalidade que atuariam como
fatores de vulnerabilidade importantes sobre o desenvolvimento de sintomas
psiquiátricos. Ao comparar os grupos com e sem histórico de EEPs, observou-se
maior presença de sintomatologia psiquiátrica no grupo categorizado com
histórico de EEPs. Além disso, também se identificou correlação positiva e
moderada entre os escores totais de sintomas psiquiátricos, EEPs e entre todos os demais subtipos de
Estresse Precoce, com exceção de abuso físico. Estes resultados reiteram um dos
achados mais amplamente notificados neste campo de estudos, que relaciona a
presença de EEPs como estando associada a uma maior vulnerabilidade ao
desenvolvimento de sintomas psiquiátricos e transtornos mentais.
Este estudo é
relevante para a Psicologia da Saúde por demonstrar os muitos prejuízos que os
EEPs podem trazer e, também, por caracterizar conhecimento útil no suporte
adequado a pessoas que possuem histórico de EEPs, uma vez que pessoas que
tenham sido vítimas desses eventos costumeiramente apresentam sintomas
psiquiátricos.
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