Como jovens descrevem o impacto de viver com diagnóstico de câncer: Viabilidade do uso de redes sociais como método de pesquisa

5 years ago

How young people describe the impact of living with and beyond a cancer diagnosis: Feasibility of using social media as a research method

Gibson, F., Hibbins, S., Grew, T., Morgan, S., Pearce, S., Stark, D., & Fern, L. A. (2016). How young people describe the impact of living with and beyond a cancer diagnosis: Feasibility of using social media as a research method. Psycho‐Oncology25(11), 1317-1323. doi: 10.1002/pon.4061

Resenhado por Luiz Guilherme L. Silva.

Um diagnóstico de câncer pode ser um evento traumático e capaz de mudar o curso de vida das pessoas em qualquer idade. Em pessoas jovens, o diagnóstico traz uma significância adicional, visto que é algo incomum nessa fase da vida e acarreta incertezas quanto ao futuro. Ser acometido pelo câncer é algo desafiador porque afeta a autoestima e a percepção de controle em uma fase em que autoimagem e autonomia são fundamentais para o desenvolvimento do indivíduo. Além dos impactos citados, ressalta-se a diminuição do contato com família e amigos devido à conciliação da rotina de tratamento com as atividades diárias. Nesse cenário, o artigo teve como objetivo relatar o uso de redes sociais para jovens com câncer como forma de compartilhar narrativas acerca do tema.
Para a coleta de dados desse estudo, foram utilizados vídeos disponíveis no website do JTV Cancer Support, uma comunidade online para jovens com câncer. A pesquisa teve delineamento qualitativo, fundamentado nos princípios da etnografia virtual e, para auxiliar na análise dos dados, foram incluídos dois jovens com diagnóstico prévio de câncer. Foram analisados 18 vídeos filmados por 18 pacientes com câncer, sendo 11 pacientes do sexo feminino e 7 pacientes masculinos, com idade entre 11 e 25 anos com duração média de 10 minutos. Os diagnósticos foram: câncer cerebral, leucemia, linfoma, sarcoma e carcinoma. As filmagens foram feitas em locais como hospitais, eventos sociais e casa dos pacientes.
Os temas mais recorrentes nos vídeos foram tratamento e efeitos indesejados, reabilitação, reincidência e aceitação da proximidade da morte. Eles relataram na maior parte das vezes os efeitos adversos, sintomas diversos, problemas emocionais e estratégias para manejo desses estressores. O tédio foi um tema comum nos relatos, assim como a frustração que o diagnóstico e tratamento acarretaram por ser um evento que mudou drasticamente os planos de vida.
A sensação de normalidade no cotidiano foi considerada importante mesmo para os jovens com um prognóstico ruim. A importância do contato com amigos demonstrou ser essencial para que a normalidade continuasse na rotina dos pacientes, bem como a aproximação com outros jovens com câncer. A criação de uma rotina foi importante até para os pacientes terminais, sendo que muitos demonstraram sentimentos de esperança e crença em um desfecho positivo, ao passo que outros descreveram frustração e falta de controle sobre a própria vida devido à incapacidade de realizar tarefas rotineiras como, por exemplo, preparar chá. Os jovens em estado terminal em suas últimas semanas de vida buscavam, como estratégia de enfrentamento, manter normalidade na rotina como, por exemplo, suporte de amigos e familiares, atividades escolares, planejamento de festividades, controle do tratamento e cuidados paliativos.
Portanto, ressalta-se o interesse da Psicologia da Saúde em como as redes sociais podem auxiliar os jovens com câncer a se engajar em estratégias de enfrentamento do câncer, visto que muitos dos relatos se basearam em problemas emocionais e na criação de uma rotina considerada normal pelos pacientes. Vale destacar, ainda, o papel da equipe de saúde como conselheiro em estratégias focadas no problema e na emoção, as quais contribuem para uma rotina diária satisfatória, que concilie tratamento e atividades comuns a essa fase da vida.

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