Experiências de parentalidade como fatores geradores de sofrimento em mulheres


Langaro, F., & Pretto, Z. (2015). Experiências de parentalidade como fatores geradores de sofrimento em mulheres. Fractal: Revista de Psicologia, 27(2), 130-138. doi: 10.1590/1984-0292/45

Resenhado por Brenda Fernanda

A partir de um projeto de extensão focado em Saúde Mental, notou-se que grande parte do sofrimento relatado pelas mulheres era desencadeado por suas experiências de maternidade e paternidade. Partindo desta problemática, realizou-se uma pesquisa visando a compreender de que maneira as experiências de parentalidade se constituíam como fatores geradores de sofrimento naquelas mulheres, de acordo com a teoria existencialista sartreana. Para tanto, foram realizadas cinco entrevistas individuais e um grupo focal.
As principais queixas das participantes diziam respeito à sintomas de depressão e ansiedade, referindo que tal sofrimento era ocasionado pelas vivências de maternidade e paternidade em suas vidas. Essas relações eram caracterizadas principalmente pela falta de reciprocidade na entrega e na dedicação ao outro e no não-reconhecimento de seus esforços pela organização e manutenção da vida familiar.
Ao longo do texto, os autores discutiram a noção de gênero como a forma que se dá a organização social da relação entre os sexos, sendo o primeiro campo em que o poder – enquanto controle ou acesso diferencial às fontes materiais e simbólicas – é articulado. Além disso, considerando as relações de gênero e os papéis que homens e mulheres desempenham na sociedade, historicamente a maternidade ocupa um lugar de sofrimento voluntário e indispensável à constituição da mulher. Ou seja, para ser verdadeiramente mulher, a mulher precisaria passar pela maternidade, e de forma dolorosa. Com o passar do tempo, a mulher foi deixando de ser vista apenas como “mãe”, passando a ocupar também seu papel de “mulher”. E fugir a essa norma muitas vezes pode gerar sofrimento.
Foram entrevistadas cinco mulheres de 34 a 54 anos. Por meio das entrevistas, foram produzidos dados e questionamentos, que deram base a um roteiro para realização de um grupo focal. O material produzido a partir das entrevistas e do grupo focal foi submetido à análise de conteúdo, emergindo os grupos de análise. Na primeira categoria, denominada “ser mãe/ser pai”, as participantes definiram essas experiências de maneira desigual, de modo que a maternidade aparece como algo natural e instintivo, além de obrigatoriamente desencadear a negação de si e priorização do filho. O pai é tido como uma figura importante, mas não tão participativa. A segunda categoria foi denominada “espaço público/espaço privado”, evidenciando que os papéis masculinos estão associados à primeira esfera (prover para a casa) e os papéis femininos associam-se à segunda esfera (cuidar da casa e dos filhos). A terceira categoria foi nomeada “sofrimento”, trazendo à tona aspectos como a abdicação da vida em função dos filhos e do reconhecimento de que a maternidade não traz só alegrias. A última categoria foi o “espaço para diálogo”, na qual as mulheres ressaltaram os motivos pelos quais buscaram o acompanhamento psicoterapêutico.
Concluiu-se sobre a importância de espaços terapêuticos em que as mulheres possam ser ouvidas e compartilhar suas experiências, evidenciando a importância da Psicologia nessas ações. A partir de tais espaços de diálogo, podem-se desenvolver estratégias de enfrentamento importantes frente à vivência da maternidade, bem como reorganizar e ressignificar essa experiência.

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.