Associação entre estresse psicossocial, sensibilidade interpessoal, retraimento social e recaída da psicose: Uma revisão sistemática

22:22

 

Almuqrin, A., Georgiades, A., Mouhitzadeh, K., Rubinic, P., Mechelli, A. & Tognin, S. (2023). The association between psychosocial stress, interpersonal sensitivity, social withdrawal and psychosis relapse: A systematic review. Schizophrenia (Heidelberg, Germany)9(1), 22. https://doi.org/10.1038/s41537-023-00349-w

  

Resenhado por Beatriz de Oliveira Santos

 

A psicose é caracterizada pela experiência de distorção da realidade, como delírios, pensamentos desorganizados e alucinações. Trata-se de um quadro que apresenta recaídas frequentes, com cerca de 67% delas ocorrendo um ano após o primeiro episódio psicótico. Os efeitos da recaída são diversos, podendo afetar o curso da doença a longo prazo, aumentar os riscos de danos a si e aos outros, acentuar a percepção do estigma, bem como causar sofrimento ao paciente e aos seus familiares. Apesar de diversos estudos investigarem o impacto dos fatores genéticos na recaída da psicose, há diversas limitações quando se trata dos estudos de aspectos psicossociais para entender esse contexto.

A fim de superar alguns desses impasses, este estudo objetivou examinar a associação entre estresse psicossocial, sensibilidade interpessoal, retraimento social e a recaída da psicose em pessoas com transtornos psicóticos. O estresse psicossocial pode ser entendido como uma reação física, psicológica e emocional a estressores sociais. Esses estressores podem ser crônicos, eventos da vida e pequenas irritações diárias. Já a sensibilidade interpessoal refere-se à alta percepção das emoções e comportamentos alheios. O retraimento social, por sua vez, é considerado como um dos sintomas negativos da psicose, caracterizado pelo distanciamento de interações sociais e uma atitude apática.

Nesta revisão, foram analisados 16 estudos publicados entre 1971 e 2021, sendo 11 deles estudos de coorte e cinco transversais. O estresse psicossocial foi investigado em 13 pesquisas, nas quais 10 delas demostraram uma associação com a recaída de psicose em indivíduos com diferentes transtornos psicóticos. Exemplo desses estressores foram mudanças de endereço ou emprego, morte de familiar, racismo e conflitos interpessoais. Quanto ao retraimento social, seis estudos observaram tal comportamento antes da recaída da psicose, presente em problemas de ajustamento social, conflitos com pessoas próximas e redução de apoio social durante hospitalização. Além disso, um estudo apontou que pessoas socialmente isoladas, mas satisfeitas com sua vida social, tinham maior probabilidade de recaída quando comparadas àquelas socialmente isoladas interessadas em aumentar seu contato social.

Algumas observações foram feitas em relação aos resultados desta revisão. Dois estressores aumentaram a recaída da psicose, sendo eles o conflito interpessoal e a mudança de residência. No entanto, os estudos que apontaram esses achados não detalharam quais condições de vida precediam a experiência de recaída, nem tão pouco os motivos que poderiam estar associados à mudança. Ainda, três estudos apresentaram resultados que contrastavam o impacto dos estressores sociais, possivelmente devido ao tamanho amostral reduzido e à natureza retrospectiva desses estudos. Já a sensibilidade interpessoal não foi avaliada em nenhum dos estudos incluídos neste trabalho, evidenciando uma escassez de pesquisas que relacionem esse construto com a recaída da psicose.

Em suma, um dos achados importantes desta pesquisa diz respeito à influência do estresse psicossocial na experiência de recaída da psicose. O estresse é um dos construtos amplamente estudados pela psicologia da saúde, a fim de compreender seus efeitos e como as pessoas lidam com estressores. Os resultados deste estudo podem ser investigados nessa área em pacientes com transtornos psicóticos que também enfrentam algum quadro de adoecimento orgânico, uma vez que o estresse pode afetar não apenas a recaída da psicose, mas também as estratégias de enfrentamento adotadas para lidar com outras condições de saúde.

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