Qual a relação entre coping e eventos cardiovasculares?

 

Roohafza, H., Askari, M., Nouri, F., Talaei, M., Sarrafzadegan, N., & Sadeghi, M. (2022). Do coping strategies really affect cardiovascular events? The Isfahan cohort study of adults in Eastern Mediterranean Regional Office. European Journal of Cardiovascular Nursing, 21, 5. https://doi.org/10.1093/eurjcn/zvab110.

 

Resenhado por Beatriz Lima

 

Doenças cardiovasculares (DCV) acometem grande parte da população em geral e são uma das principais causas de mortalidade no planeta. Alguns dos fatores de risco para essas doenças, como diabetes e obesidade, podem ser estimulados por estresse psicológico. O estresse é considerado um problema de saúde pública e pode ser definido como uma resposta fisiólogica ou mental a qualquer estimulante. Além disso, a literatura aponta uma relação significativa e independente entre esse construto e eventos de DCV, de modo que altas taxas de estresse percebido podem levar a um aumento no risco dessas patologias. Contudo, o estresse é um fator gerenciável a partir de estratégias de enfrentamento - coping -, as quais variam de acordo com a capacidade pessoal de ajustamento. As estratégias de enfrentamento podem ser classificadas em adaptativas e desadaptatativas, as primeiras auxiliam no funcionamento dos indivíduos, enquanto as outras reduzem os sintomas e contribuem para a manutenção do problema. Estudos demonstram que o tipo de coping adotado pelos pacientes em doenças crônicas afeta esse quadro, contudo, existem poucas evidências que sustentem essa relação com as DCV. 

O presente estudo investigou a relação entre as estratégias de enfrentamento adaptativas e desadaptativas e a redução de eventos cardiovasculares. Para isso, foi realizado um estudo longitudinal com acompanhamento durante 15 anos. A amostra contou com 6.323 participantes. Como critério de inclusão, foram aceitos indivíduos com idade igual ou superior a 35 anos. Foram considerados eventos cardiovasculares infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, angina instável e morte súbita cardíaca. Os participantes passaram por uma bateria de testes para avaliação de fatores de risco para DCV, como cálculo de índice de massa corporal (IMC) e mensuração da pressão arterial. As estratégias de enfrentamento foram avaliadas por meio de um questionário de gerenciamento de estresse autoadministrado. Além disso, também foram coletados dados sociodemográficos e do estilo de vida dos indivíduos.

Os resultados obtidos demonstraram que a adoção de estratégias de enfrentamento adaptativas pode atuar como fator protetivo para eventos de DCV. Ao mesmo tempo, o uso de coping desadaptativo pode ocasionar em um efeito reverso, sendo fator de risco para esses eventos. Cabe pontuar que algumas estratégias de enfrentamento adaptativas, como a atividade física, apresentaram efeito indireto nas DCV, afetando fatores de predisposição como pressão arterial e obesidade. Do mesmo modo, certos mecanismos de coping desadaptativos, tabagismo por exemplo, prevalentes na amostra com DCV podem levar a eventos cardiovasculares. Também foi observado que as estratégias de enfrentamento apresentam estão mais relacionadas com eventos de DVC em adultos mais jovens do que em idosos.

            A partir desses achados, conclui-se que o coping se relaciona com eventos de DVC, podendo ser tanto um agente de risco, quanto protetivo para esse cenário. Para proporcionar uma atuação eficaz em aspectos de saúde, faz-se necessário que o psicólogo da saúde conheça essa dinâmica. Desse modo, ao atuar com um paciente com diagnóstico de DCV, ele poderá intervir de forma efetiva, com psicoeducação acerca dos tipos de enfrentamento e possíveis interferências com o quadro clínico. Assim sendo, ele poderá manejar a relação do cliente com a doença e evitar possíveis desfechos negativos em dimensões psicológicas do paciente. 

 

 

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