Como a ansiedade se relaciona com o vitiligo?

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Kussainova, A., Kassym, L., Akhmetova, A., Glushkova, N., Sabirov, U., Adilgozhina, S., Tuleutayeva, R., & Semenova, Y. (2020). Vitiligo and anxiety: A systematic review and meta-analysis. PLoS ONE, 15(11), e0241445. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0241445

 

Resenhado por Beatriz Lima

 

Os transtornos de ansiedade (TA) são caracterizados por preocupação excessiva diante de um problema interpretado como ameaçador. Observa-se um aumento global no número de casos de TA, os quais costumam aparecer com outros problemas de saúde mental. As doenças cutâneas estão relacionadas com sintomas ansiosos. O vitiligo é uma doença adquirida e duradoura que afeta aproximadamente 1% da população. Ela costuma ser manifestada através de manchas de despigmentação ao longo da pele, com margens nítidas. Essas manchas podem se expandir com o tempo e as pessoas que sofrem de vitiligo costumam experimentar diversos problemas emocionais. Além disso, em determinados contextos, o estigma da doença pode dificultar a realização de atividades diárias, aumentando o sofrimento psicológico dos indivíduos. Estudos apontam taxas acentuadas de sofrimento mental em indivíduos com vitiligo, contudo as evidências da prevalência de ansiedade, especificamente, nesse público ainda são escassas.  

O presente estudo investigou os índices de ansiedade em pacientes com vitiligo e comparou com portadores de outras doenças de pele. Para isso, foi realizada uma revisão sistemática e posteriormente uma metanálise que contaram com 15 estudos e 1.176 participantes. Foram utilizadas as plataformas Pubmed, PsycINFO e Cochrane Library. Os estudos foram selecionados a partir do método PRISMA e foram incluídos somente aqueles publicados em inglês e considerados de alta e média qualidade pela escala de Newcastle-Ottawa (4 pontos). Todos os trabalhos analisados foram estudos observacionais de coorte transversal. Pesquisas que apresentaram baixa qualidade metodológica ou que relataram ansiedade durante ou após eventos traumáticos foram excluídas. Também foram realizadas análises de subgrupo para analisar o impacto do gênero, continente e tipo de doença cutânea na prevalência de ansiedade.

Os resultados obtidos comprovaram a hipótese inicial, tendo sido encontradas elevadas taxas de ansiedade (35,8%) em portadores de vitiligo. Contudo, foi observado que o impacto ansiogênico do vitiligo independe do gênero ou da etnia do paciente. Homens e mulheres apresentaram altos índices de ansiedade, mas as mulheres ultrapassaram esse quadro, o que está de acordo com as tendências de epidemiologia dessa patologia. Não houve diferença significativamente estatística entre a prevalência de ansiedade nos diferentes continentes. Além disso, esse dado se repetiu na comparação com portadores de outras doenças de pele, a qual não atribuiu taxas significativamente mais altas de ansiedade a pacientes com vitiligo. Algumas limitações, a exemplo da ausência de dados sobre a prevalência de ansiedade de acordo com gravidade do vitiligo, impossibilitaram de analisar a relação entre ansiedade e extensão da doença.

            A partir desses achados, pode-se concluir que pacientes de vitiligo são afetados por sintomatologia ansiosa, assim como indivíduos com outras doenças de pele graves, à exemplo de psoríase e eczema. Assim, para proporcionar uma atuação eficaz em aspectos de saúde, faz-se necessário que o psicólogo da saúde conheça essa dinâmica. Ao atuar com um paciente com doenças cutâneas, ele deve estar ciente da maior predisposição à ansiedade para intervir de forma efetiva. Estratégias clínicas como psicoeducação e mindfulness podem ser utilizadas para aliviar a carga de sofrimento mental nesses pacientes. Assim sendo, ele poderá manejar a relação do cliente com o quadro clínico e evitar possíveis desfechos negativos em dimensões psicológicas do paciente. 

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