A instituição hospitalar e as práticas psicológicas no contexto da Saúde Pública: notas para reflexão
Ribeiro, J. C. S., & Dacal, M. D. P.
O. (2012). A instituição hospitalar e as práticas psicológicas no contexto da
Saúde Pública: notas para reflexão. Revista
da SBPH,15(2), 65-84.
Resenhado por: Renata Elly
A presença da psicologia nos
hospitais faz parte da história e do desenvolvimento dessa ciência. Assim,
compreender como tais instituições surgiram possibilita melhor entendimento
sobre a constituição do conceito de hospital. Os primeiros espaços onde se originaram
os hospitais não tinham exatamente o caráter de assistência em saúde.
Primeiramente, apresentavam assistência social eminentemente religiosa,
exerciam a função de separar e excluir do convívio social aqueles que ameaçavam
a coletividade. Somente a partir do século XVIII foram consolidadas as bases
dos hospitais atuais. Dessa forma, políticas de “desospitalização” foram
implantadas, favorecendo a racionalização da oferta em serviços hospitalares, a
redução do tempo de internação, bem como o fechamento ou a fusão de alguns
hospitais.
Diante dessas transformações, a
prática brasileira em saúde, com a implantação da rede SUS (Sistema Único de
Saúde), passa a se defrontar com um fator bastante significativo: a constatação
de carências e necessidades em torno da formação superior para a atuação no
serviço público. Começa então um movimento para que as instituições
educacionais não priorizassem apenas a assimilação de conhecimentos básicos,
mas que também a aquisição de atitudes e valores associados a uma compreensão
mais ampla da prática profissional, para uma atuação condizente com os
princípios e diretrizes do SUS. Sob essa nova perspectiva, as equipes
tornaram-se multidisciplinares e o profissional da psicologia passou a ser
convocado para atuar na saúde pública, inserindo-se nos mais diversos
contextos: saúde mental, saúde geral, penitenciárias, regulação/gestão, entre
outros. Com isso, os autores apontaram a necessidade de questionar o quanto essa
nova política de assistência foi de fato incorporada nas práticas
profissionais, e o quanto a mera formação de equipes multidisciplinares é
insuficiente para a concretização dos princípios norteadores do SUS.
Um estudo realizado por Spink, Bernardes, Santos e Gamba (2010) abordou a inserção
do psicólogo na saúde pública por meio de um levantamento de motivações
responsáveis pela inserção dos psicólogos na rede pública de saúde. Dentre os
achados, destacaram-se as motivações relativas à ocorrência de concursos e a
falta de horizontes no mercado de trabalho. Os resultados obtidos a partir de
entrevistas com os psicólogos atuantes na rede SUS naquele período revelaram
que pouco mais de 27,49% dos psicólogos entrevistados identificavam-se com a
área da saúde pública, 14,45% mencionaram falta de horizontes em outras áreas,
12,32% relataram trajetórias pessoais e/ou convites que viabilizaram o ingresso
no SUS.
Ainda em relação aos
dados da pesquisa referida, tem-se que 14.407 profissionais da Psicologia se encontravam
inseridos na rede SUS, com uma média nacional de 10,08% do número total de
psicólogos que possuem algum vínculo com o setor público de saúde. A partir de
tais dados é possível afirmar que o SUS representa uma parcela importante do
mercado de trabalho, absorvendo um número significativo de profissionais
formados e em atividade.
Portanto, é necessária uma
formação mais abrangente que abarque os princípios. A formação em psicologia da
saúde é também importante para a atuação nesses espaços, uma vez que objetiva
aplicar conhecimentos e técnicas psicológicas no cuidado em saúde, prevenção e
promoção de saúde. Além disso, pode ser necessário pensar em ações políticas da
classe de psicólogos na inserção mais efetiva de suas práticas no espaço da
saúde pública, para que seja cada vez mais reconhecida a importância desse
profissional nesses serviços.
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