Consideração Empática e Tomada de Perspectiva para o Perdão Interpessoal
Riqué, J., Camino,
C., Formiga, N., Medeiros, F., & Luna, V. (2010). Consideração Empática e
Tomada de Perspectiva para o Perdão Interpessoal. Interamerican Journal of Psychology, 44(3), 515-522.
Resenhado por Michelle Leite
Este estudo verificou empiricamente um modelo teórico das relações
entre a consideração empática, a tomada de perspectiva do outro e a atitude
para o perdão interpessoal. A empatia é um fenômeno multidimensional e
relaciona-se à adoção do ponto de vista do outro e diferenciá-lo do seu
próprio, compreender motivações e necessidades do outro e atribuir atitudes e
comportamentos ao outro. Entre as suas dimensões estão: a tomada de perspectiva
do outro e a consideração empática. A primeira entende-se
como a capacidade de diferenciação dos pontos de vista, e a segunda é a
capacidade de simpatizar com o outro e de se motivar para ajudá-lo. Ambas,
apesar de formarem o construto global da empatia, são processos psicológicos
diferentes.
Através de uma perspectiva
cognitiva, o perdão pode ser definido como a capacidade de relevar o
ressentimento e desenvolver compaixão para com um ofensor. Um importante fator
presente no processo de perdão é o reframing.
Este refere-se a uma mudança de pensamento da pessoa ofendida sobre a
situação e o ofensor. Fazem parte do processo de reframing a consideração empática e a tomada de perspectiva. Enquanto
a consideração empática atua na intensidade da mágoa, a tomada de perspectiva
do outro reorganiza o pensamento sobre a mágoa sofrida. O resultado do reframing ajuda na redução da dor e
possibilita o surgimento de uma disposição para o perdão.
O estudo foi realizado com 200
participantes, com idades entre 14 e 46 anos, em sua maioria mulheres (69,5%),
na cidade de João Pessoa-PB. Os instrumentos utilizados na coleta foram: a
Escala de Consideração Empática e de Tomada de Perspectiva do Outro da Escola
Multidimensional de Reatividade Interpessoal de Davis, a Escala do Perdão, o
Item do Perdão e um questionário demográfico. Quanto à análise de dados, foram
realizadas estatísticas descritivas e foram computados e avaliados os
indicadores estatísticos para o Modelo de Equações Estruturais.
Os resultados indicaram que a
consideração empática relacionou-se positivamente com a tomada de perspectiva,
o grau de perdão e a intensidade da mágoa. A tomada de perspectiva, por sua
vez, relacionou-se positivamente com o perdão, mas negativamente com a
intensidade da mágoa. Por fim, as variáveis dependentes, o grau de perdão e
intensidade da mágoa, relacionaram-se negativamente entre eles. Diante desses
achados, os autores confirmaram o modelo proposto no objetivo do estudo,
corroborando que a consideração empática relaciona-se positivamente com a
tomada de perspectiva e ambas influenciam positivamente o perdão.
Este tipo de pesquisa evidencia que
o perdão não constitui um processo automático, espontâneo e baseado unicamente
nos afetos. A perspectiva cognitiva defende que é preciso razão, ou seja,
processo cognitivo, para mostrar compaixão e alcançar o perdão. Esse processo
ocorre mediante exercícios cognitivos que possam reenquadrar a vítima e o
ofensor numa nova perspectiva, de modo que o exercício cognitivo preceda os
afetos. Nessa concepção, achados como estes orientam os psicoterapeutas
cognitivos a trabalharem exercícios terapêuticos que se direcionem para a
consideração empática e para a tomada de perspectiva, pois, só assim, a vítima
refletiria sobre si mesma, sobre o ofensor e sobre a injustiça sofrida, se
tornando mais propensa ao perdão.
Nenhum comentário: