Esperança e Qualidade de Vida em idosos
Martins,
R., & Mestre, M. (2014). Esperança e qualidade de vida em idosos. Millenium, 47, 153-162.
Resenhado por Sara Andrade
Ao longo da vida, os indivíduos constroem
representações mentais daquilo que virão a ser ao envelhecer. Esse processo de
adaptação dos idosos consiste em aderir a uma série de comportamentos e
conceitos como: estabelecimento de objetivos, sentido de vida, esperança e
bem-estar (Fonseca, 2008). Dentre estes, a esperança configura como variável
psicológica de bastante interesse para estudos. A definição da mesma está
ligada com a ideia de crenças, a qual seria uma crença no acontecimento de
resultados positivos e na capacidade do indivíduo de atingir esses mesmos
objetivos.
Estudos anteriores demonstram que a
esperança possui potencial para terapêutica, funcionando como importante
preditor de saúde e qualidade de vida (Martins & Santos, 2008). A qualidade
de vida seria também, portanto, um construto importante para entender e estudar
a terceira idade. Em função disso, o estudo buscou identificar os níveis de
esperança e qualidade de vida em idosos, bem como quais seriam seus fatores
determinantes.
Tratou-se de um estudo
quantitativo, não experimental e descritivo-correlacional. Foi utilizada uma
amostra por conveniência composta por 100 idosos, residentes do centro do país,
em dois grupos: institucionalizados (n = 50) e idosos residentes na comunidade
(em domicílios) (n= 50). A maioria dos idosos era do sexo feminino (69%), com
uma média de idade de 84,3 anos. Utilizaram como instrumentos uma ficha
sociodemográfica, a Escala de Esperança e por uma Grelha de Avaliação da
Qualidade de Vida dos Idosos disponibilizada pela Direção Geral de Saúde em
2003.
Os
resultados apontaram que a população estudada, maioritariamente feminina, tinha
uma média de idade de 81 anos, era predominantemente composta por viúvos, com
baixos níveis de instrução; 89% dos idosos tinham filhos, sendo que a maioria com
mais de 2. A maior parte destes idosos
viviam sozinhos. Em contrapartida, aqueles que residem na comunidade possuíam idades
inferiores há 81 anos, apresentavam habilitações literárias básicas, dividiam-se
entre os que vivem sós e os que viviam com o cônjuge, e tendo entre 2 a 3
filhos. Em relação aos que moram em instituições, verificou-se que suas idades eram
superiores há 81 anos, menos habilitados para leitura, e com mais de 3 filhos.
Ambos os grupos percebem o seu estado de saúde como mau ou indiferenciado, e
classificam a preocupação da família como sendo pouca ou muito pouca.
Os
níveis de esperança encontrados divergiram entre os participantes. Contudo, 55%
dos idosos apresentaram níveis elevados (> 53 pontos), 7% moderados (entre
50 e 53 pontos) e 38% baixos (< 43 pontos). Do mesmo modo, a maioria (92%)
dos idosos apresentou boa qualidade de vida, porém esta foi superior nos idosos
residentes na comunidade. Os autores também evidenciaram que os fatores
determinantes com significância estatística com relação à esperança foram apenas:
o número de filhos (ter mais de 3 filhos), ter percepção de um melhor estado de
saúde e índices mais elevados de qualidade de vida.
O
estudo da esperança frente ao envelhecimento parece ser relevante na medida em
que ela pode funcionar como fator protetivo, bem como estratégia de
enfrentamento diante das incertezas vivenciadas pelos idosos, seja
institucionalizados ou aqueles que vivem em suas próprias casas. A qualidade de
vida também parece se relacionar a níveis maiores de esperança. Desta forma, a Psicologia da Saúde tem o papel de integrar conhecimentos
sobre a correlação dos construtos, para futuras analises e propostas
interventivas nesse campo.
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