Avaliação da personalidade em pacientes com dor crônica
Carvalho, L. F., Primi, R. & Capitão, C. G. (2016).
Avaliação da personalidade em pacientes com dor crônica. Estudos de Psicologia (Campinas), 33(4), 645-653. doi:10.1590/1982-02752016000400008
Resenhado por Márcio Diego Reis
A
dor crônica é caracterizada por dor que persiste por um longo período de tempo
e pode estar relacionada a processos patológicos crônicos. Estudo realizado
pela Organização Mundial da Saúde revelou que, a cada ano, 31% da população
brasileira é recém diagnosticada com dor crônica. Fatores psicológicos
desempenham um importante papel nessa patologia e diversos estudos demonstraram
uma maior prevalência de depressão, ansiedade, abuso/dependência de
substâncias, somatização e transtorno de personalidade em pacientes com dor
crônica. Essas psicopatologias, se não reconhecidas e tratadas, podem
interferir significativamente na reabilitação de pacientes com dor crônica,
tornando mais difícil o enfrentamento e aumentando a percepção da dor.
Estudos
que investigaram a relação entre personalidade e transtorno de personalidade em
paciente com dor crônica encontraram uma maior frequência dos transtornos de
personalidade paranoica (30,8%) e limítrofe (27,9%) nessa população. Revisões
da literatura relatam que a prevalência de transtornos de personalidade varia
entre 31,0 e 59,0% em indivíduos com dor crônica e entre 0,5 e 3,0% na
população em geral.
O
presente estudo teve como objetivo avaliar as características de personalidade
de pacientes com dor crônica e compará-las com as de pacientes sem essa
condição. Foi utilizado um desenho correlacional, que incluiu uma amostra não
aleatória de 60 indivíduos separados em dois grupos diferentes. O primeiro
grupo foi composto por indivíduos previamente diagnosticados com dor crônica
(CPG), o segundo grupo foi composto por indivíduos sem esse diagnóstico (GC). A
idade dos 60 participantes variou de 21 a 77 anos, sendo 45 deles do sexo
feminino. Os traços de personalidade foram avaliados por meio do Inventário
Dimensional de Transtornos da Personalidade (IDTP) e da Escala Hipocondria da
versão brasileira do Inventário Multifásico de Personalidade de Minnesota
(MMPI).
Foram
realizadas duas análises estatísticas diferentes: o teste t para determinar as diferenças entre os escores dos dois grupos e
a análise de regressão logística para examinar o poder preditivo das escalas
para o diagnóstico de dor crônica. Os achados sugeriram diferenças
significativas entre os grupos (p
<0,05) para oito das 15 escalas utilizadas, corroborando parcialmente as
hipóteses iniciais baseadas na revisão da literatura. Como esperado, os
pacientes com dor crônica tiveram pontuações mais altas que os do GC. O
distúrbio histriônico mostrou-se significativamente mais prevalente na
população clínica do que na população em geral. Em relação às escalas com maior
poder preditivo (depressão, histriônica e hipocondria) a hipótese foi
parcialmente apoiada porque, diferentente da histriônica e hipocondria, a depressão
não teve uma pontuação suficientemente alta para o CPG.
Dado
o exposto, uma melhor compreensão da personalidade e dos transtornos de
personalidade pela psicologia é fundamental para o tratamento dos pacientes com
dor crônica. Por isso, a psicologia da saúde pode contribuir com mais estudos
que esclareçam as lacunas teórico-práticas que ainda se impõem nessa temática.
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