O Método de Autópsia Psicossocial como Recurso de Investigação acerca do Suicídio
Teixeira,
S. M. O. (2018).
O Método de Autópsia Psicossocial
como Recurso de Investigação acerca do Suicídio. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 34.
Resenhado por
Renata Elly
O suicídio vitima aproximadamente um milhão de pessoas por
ano, o que torna este problema uma questão de saúde pública. Por se tratar de
um fenômeno multifatorial, suas causas não devem reduzir-se a apenas um
acontecimento específico, por isso, deve ser estudado a partir de diversas
facetas, tais como a história de vida do sujeito, eventos circunstanciais,
familiares e ambientais e questões subjetivas, culturais e socioeconômicas. O presente artigo apresenta o método de autópsias
psicossociais, que proporciona, por meio de análise retrospectiva, a
identificação de fatores psicossociais que envolveram casos de suicídio. O
intuito é que a compreensão desses fatores possibilitem o desenvolvimento de
ações preventivas eficazes para novas atuações dos setores da saúde, social e
direitos humanos.
O método de autópsia psicológica foi proposto nos Estados
Unidos na década de 1950. As autópsias acontecem a partir do depoimento de
parentes, amigos ou profissionais que testemunharam um caso de suicídio e
acompanharam de perto o sujeito que executou o ato, estimulando o resgate da
história de vida do indivíduo, para posterior identificação das motivações e
possíveis causas que levaram à morte autoprovocada. Em geral, o método responde
aos seguintes questionamentos: a) O que ocorreu?; b) Por que ocorreu?; c) De
que maneira aconteceu?
O método adotado pelo seu criador, Edwin Schneidman, aborda
uma visão sistêmica e integral do fenômeno, considerando a realidade social e
peculiaridades de cada caso. A literatura aponta que a autópsia psicossocial,
em casos de suicídio, compreende um completo instrumento de avaliação clínica e
pesquisa, porém, no contexto brasileiro, trata-se de um método ainda pouco
divulgado, carecendo de novos estudos, uma vez que se configura como uma medida
complexa e multidimensional.
As vantagens apresentadas pelos autores sobre o uso desse
método é a possibilidade de conhecer fatores de risco e correlatos
sociodemográficos do suicídio, além de apresentar diferentes perspectivas sobre
a morte e a intenção de morrer. Além disso, usualmente, a efetivação de um
suicídio faz com que familiares e amigos tomem para si a responsabilidade por
não terem impedido o sofrimento ou mesmo não terem percebido a possibilidade do
ato vir a ocorrer, portanto, as entrevistas permitem, além da compreensão do
que aconteceu, a elaboração do luto aos informantes, produzindo esclarecimentos
sobre um tema que ainda é tratado como tabu na sociedade atual
A autópsia psicossocial possibilita a identificação de
demandas emocionais e riscos de suicídios nos próprios informantes, realizando
encaminhamentos quando necessários, contribuindo para a prevenção de um
suicídio, assim como o enfraquecimento do tabu que perpassa o tema. A
experiência do sofrimento psíquico, apesar de singular, é estabelecida dentro
de um contexto, sendo assim, não pode ser entendida separada deste. Por fim,
esse tipo de investigação requer manejos delicados e uma escuta empática dos
entrevistados,
por isso, ressalta-se a importância da Psicologia da Saúde na produção desses
estudos.
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